O que é Morte Encefálica?

Aproximando-se o dia 27 de setembro, quando se comemora o Dia Nacional da Doação de Órgãos, não podemos deixar de pensar nos milhares de pacientes que aguardam em listas de espera para realizar um transplante de órgão, e, assim, dialogar sobre o assunto. Trata-se de um procedimento cirúrgico, que nada teria de especial, não fosse a necessidade de participação da sociedade através da doação dos órgãos, um ato de extrema generosidade, que ocorre em um momento de sofrimento pela perda de um ente querido. A maioria dos doadores de órgãos no Brasil são vítimas de lesões neurológicas graves que evoluem para morte encefálica (ME), quadros estes que apresentam início súbito e que pegam as famílias de surpresa, podendo causar muitas dúvidas sobre o diagnóstico
Por trabalhar na área há algum tempo, percebo que o diagnóstico e, principalmente, o entendimento do significado da ME ainda é um grande entrave para conseguirmos aumentar o número de doadores de órgãos em nosso país. A ME (ou “morte cerebral” em termos leigos) consiste na cessação irreversível de todas as funções do encéfalo, que ocorre após uma lesão neurológica grave e de causa conhecida. Não é apenas um quadro de coma, do qual pode haver recuperação mesmo após anos do insulto, mas significa realmente a morte do indivíduo. Morte encefálica é igual a morte. Esse entendimento é bastante complicado porque muitas pessoas não têm conhecimento prévio sobre o assunto e trata-se de um tipo de morte “invisível”, que não pode ser detectada ao simples olhar à beira do leito, ao contrário do que ocorre na morte por parada cardíaca. Na ME, não há mudança na cor da pele, o falecido continua rosado como se vivo estivesse, mantendo os batimentos cardíacos e, muitas vezes, o corpo aquecido. Difícil de acreditar.
Dito isso, é possível entender por que muitas pessoas lançam o questionamento: será que meu familiar está realmente morto? Existe a possibilidade de erros nesse diagnóstico? E a resposta a essa dúvida é que o diagnóstico de ME é extremamente seguro, pois segue critérios técnicos que comprovam a morte do indivíduo, definidos no Brasil por legislação escrita pelo Conselho Federal de Medicina e que obrigatoriamente têm que ser seguidos, com controle das Centrais de Transplantes Estaduais. São necessários dois exames clínicos neurológicos realizados por médicos diferentes, um teste de apneia (que confirma a perda da função da respiração) e um exame de imagem (arteriografia, cintilografia, eletroencefalograma ou eco doppler transcraniano) para diagnosticar a ME. Ainda, recentemente, houve uma atualização desta lei que tornou ainda mais detalhada e rigorosa a aplicação destas regras. Como exemplo disso, hoje são exigidas mais etapas para o diagnóstico no Brasil do que na maioria dos países do mundo! Então a maior preocupação que temos que ter é se as famílias estão sendo adequadamente informadas a respeito da seriedade deste processo, pois temos a responsabilidade social de esclarecê-las para que possam decidir sobre a doação com um bom entendimento do real significado da ME.

Fernanda Paiva Bonow
Médica Intensivista Pediátrica Coordenadora da Organização de Procura de Órgãos 1- ISCMPA

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