Estou sempre fico nessa se falo ou não falo, se grito de novo, se é da minha conta e se vou, será a última ou se vou ser repetitiva. Lembro muito de uma professora me dizendo:“ela já vai reclamar de novo”, mas fazer o quê… preciso falar. E como dizia o nosso prêmio nobel da paz, Desmond Tutu: “Se você fica neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor. “E como vocês já sabem, essa nunca vai ser uma opção na minha vida. A situação de racismo a qual Vini Jr foi exposto não é a primeira em sua carreira, que é excepcional, diga-se de passagem, e infelizmente não será a última. Conforme todos puderam assistir, ele, mesmo sofrendo a agressão, foi o único a ser expulso. O lance foi analisado pelo VAR, “tecnologia usada para tomar decisões mais adequadas no futebol” e o Var protegeu o agressor.
No campo vemos mais uma manifestação da vida real, onde pessoas negras são comumente agredidas e expulsas sem direito a resposta. Pois ao responder “perdem a razão” tornando o alvo. Praticamente colocando uma placa de culpado em sua testa. Infelizmente já passei por isso, infelizmente já vi isso, infelizmente vemos esta conduta de todos os “árbitros da vida”. E, como sempre, muitas pessoas falaram que ele deveria sair da Espanha, deixar o futebol, sair dessa situação e auto-proteger em vez de se expor mais ainda. E aí é que está a grande questão, se eu fugir… se Vini Jr fugir… quem vai falar? Quem vai discutir os atos e ações que seguem se repetindo?
Então… deixa eu te contar uma história! Eu também tive vontade de correr todas as vezes, eu também me sinto cansada de parecer não ser ouvida, a minha garganta também está embargada, por diversas vezes, como hoje, como agora até pensei em me calar. Quero dizer que em vez de pedirem para nós pararmos de falar, grita junto comigo, resolve, te posiciona, seja crítico, seja um racista em desconstrução, trabalha na causa e não fica do lado do opressor apoiando a manutenção do sistema. Me pedir para parar de sofrer, não é uma possibilidade. Se a sociedade tivesse condutas mais criteriosas, se o nosso VAR de cada dia realmente funcionasse, coibiríamos com maior facilidade toda e qualquer ação que remetesse a atos de racismo estrutural.
Lembre-se que você não precisa estar na Espanha para sofrer racismo, como em qualquer lugar do mundo, você só precisa ser negro. Vivemos em um estado que não se tem vergonha de ser racista, que repete falas com naturalidade porque“temos poucos de vocês por aqui”, informação que não condiz com a realidade. Para as pessoas negras, seguir na cobrança de providências é uma questão de sobrevivência. Mesmo que sejamos expulsos de muitos lugares por nos posicionarmos, prefiro ser mal vista do sofrer o burnout racial. É uma sensação de dor intensa, que cala muitas pessoas, que adoecem pela represália e por se sentirem impotentes. Eu preciso falar e ao me deixar sozinha nessa luta você será parte atuante do sistema opressor. Saravá!!
