Existem coisas que a gente considera opinião, e existem falas que são agressão — independente da intencionalidade.
Como todos sabem… sou negra todos os dias. E, por isso, a pauta antirracista faz parte da minha vida: nas relações, na convivência diária, no almoço de família e nas ações do dia a dia.
E os questionadores, questionarão: “Nas tuas relações pessoais e sociais existem racistas? Nos lugares que frequenta, já sofreu racismo?” Infelizmente, a resposta é sim. E é muito duro quando um amigo nos vê numa situação de racismo — ou quando estamos defendendo alguém — e diz:“Acho que não é bem assim.”
Se você é branco e tem um amigo negro ou preto, no mínimo, eu espero o teu apoio, a tua percepção e a tua atitude. Se você é branco(a) e tem uma namorada preta (ou namorado preto), eu espero que você seja leal.
Eu não posso deixar de ficar alerta. De ter o olhar atento às atitudes das pessoas ao meu redor. Mas a última coisa que eu espero… é que você seja a minha dor, minha raiva ou meu desespero. Estar comigo é entender que eu já passei por muitas situações que causaram traumas na minha existência — e o fato de estar contigo não ameniza, não apaga, e eu não deixo de ser preta.
Quando eu te digo:“Só tem branco.” Não está relacionado com você. Está relacionado com o desconforto de certas situações, que nesses espaços são banalizadas e reproduzidas como se eu fosse invisível.
Infelizmente, o meu corpo e a minha mente aprenderam a prever o desconforto de longe — e muitas vezes eu vou ter dificuldade de lidar com isso.
Eu, como tua amiga preta, espero que tu te eduque. Porque eu não sou a “wikinegritude”, um dicionário ambulante que sabe todos os assuntos e personalidades negras para te ensinar quando tu precisar. Para que eu não precise te educar politicamente para poder conviver contigo. Amizade passa por posicionamento. Por criticidade. Por educação antirracista. Por empatia. Consciência é o mínimo que se espera de uma pessoa que convive conosco diariamente. Que divide momentos da vida. Que escolhemos para fazer parte da nossa intimidade. Estar nesse lugar de branquitude é ter compromisso com o respeito, com a diversidade, com a maturidade.
E o que eu espero de ti, meu caro amigo branco? Que quando me ver silenciada, use o seu privilégio branco para garantir meu direito de fala. Que reconheça os seus privilégios e nos apoie em nossas lutas. Que se responsabilize, junto comigo, em todos os lugares por onde passar, por manter a pauta antirracista viva. Que questione comigo os padrões sociais e garanta que outras pessoas também tenham acesso aos espaços e às oportunidades.
E que entenda: o racismo é muito mais do que um preconceito pessoal — é um sistema feito para manter o benefício de alguns. Axé!