Espaço para os cristãos

Apolítica tem a ver com a paz, com a justiça, com o cuidado da vida de uma cidade, de um povo inteiro e da humanidade. Por isso, a Igreja Católica é comprometida com a política. Estamos em período eleitoral, ocasião especial para falarmos de política. Vamos refletir sobre qual o lugar dos católicos na política e, a partir disso, propor algumas atitudes.

Os cristãos têm esse nome porque são seguidores de Jesus Cristo. Ele é o Filho de Deus que veio a este mundo num contexto religioso, social e político específico. E Jesus se envolveu com tudo o que diz respeito à vida humana. Suas ações tiveram repercussão política. Isso não significa que Ele quisesse ser governante, derrubar o imperador ou propor uma revolução armada. Mas Jesus falou da vida que Deus quer para os seus filhos e filhas, com dignidade, igualdade de condições, respeito, justiça, e isso teve repercussão política.

Aí está fundamentada a relação que todos os cristãos – e penso particularmente nos católicos – têm com a política: estamos no mundo que Jesus Cristo veio salvar. Então, a salvação não é uma ocupação apenas para a vida eterna, mas ela tem seu impacto hoje, nas questões terrenas. Cuidado com uma espiritualidade de fuga do mundo, com o medo de nos envolver com a realidade!

Qual o lugar dos católicos na política? É o lugar que lhes cabe como cidadãos, membros da civilização humana. Somos cidadãos brasileiros, eleitores, trabalhamos, pagamos impostos, somos atendidos pelos serviços públicos. Tudo o que diz respeito à vida humana nos interessa. O lugar dos católicos na política não é para garantir privilégios à Igreja. Não queremos compor uma “bancada católica”, que vote em bloco medidas que nos interessem. O desafio de ser católico na política é ocupar o espaço importantíssimo das decisões, das elaborações de leis, do cuidado daquilo que é de todos. E ocupar esse espaço com o olhar de Jesus: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (Jo 10,10). Sobretudo cuidar da vida dos indefesos, como estamos acompanhando no debate sobre o aborto.

A maior tristeza que sentimos é ver que o sistema político brasileiro facilmente engole as pessoas que entram nele e, em pouco tempo, a maioria vive em função dos seus próprios interesses ou dos grupos que financiaram sua eleição. Precisamos de homens e mulheres que estejam de tal maneira impregnados dos valores do Evangelho que, mesmo sendo enviados como “ovelhas no meio de lobos”, não percam sua identidade e sua convicção de trabalhar pelo bem comum. E há políticos assim, graças a Deus!

Concluo a reflexão convidando-te a acompanhar o momento político brasileiro. Mas cuidado: política não é futebol. O futebol nós assistimos, torcemos por um time e nos alegramos se o adversário vai mal. Na política é preciso menos paixão e mais razão: olhar as propostas concretas e os valores que essas propostas carregam, comparando-os com os valores que Jesus apresenta a nós como regra de vida. E, depois da eleição, devemos colaborar e querer o bem comum, superando as divisões tão drásticas dos tempos de campanha.
Eduardo Luís Haas
Padre, formador do Seminário São
João Batista – Dioces de Montenegro

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