A região onde as famílias negavam a doação de órgãos para transplantes em 100% dos casos alcança hoje uma posição de destaque no Estado.
Foi em fins de 2017 que um grupo de pessoas comuns decidiu se engajar, de modo absolutamente livre de vínculos e interesses de qualquer outra natureza que não fosse “falar sobre a doação de órgãos para transplantes”. Este grupo contou com o apoio da Fundação Ecarta, por meio do projeto Cultura Doadora, para manter uma atividade contínua junto à comunidade regional. À medida que fomos conquistando parceiros que nos abriam as portas para conversar sobre o tema, também conquistamos o reconhecimento e o apoio inestimável por parte do Hospital Montenegro e sua mantenedora (Oase).
Assim, o movimento Cultura Doadora – Montenegro iniciou uma parceria justamente com o estabelecimento capacitado para identificar um potencial doador. Houve o engajamento imediato de grande parte dos colaboradores. E ainda mais casos de morte encefálica passaram a ser diagnosticados, desde abril de 2017, quando a instituição passou a integrar a “Rede Brasil de AVC”. A importância disso é porque apenas 1% das mortes ocorre pelo mecanismo da morte encefálica e geralmente são consequência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou traumatismo craniano (casos que antes eram referenciados para hospitais da grande Porto Alegre).
O que se observava até então era que todas as famílias (100%) que perdiam um familiar abruptamente através de morte encefálica simplesmente não autorizavam a doação de órgãos para transplantes. Eis o paradoxo: nossos cidadãos precisam transplantar, existem inúmeros transplantados no Vale do Caí e outros tantos estão inscritos na lista única do Estado à espera de um órgão, mas a doação não ocorria quando havia esta possibilidade por aqui.
É com muito orgulho que celebramos neste Setembro Verde – o Dia Nacional Doação de Órgãos – com toda a comunidade do Vale do Caí, que abraçou a causa e fez com que saíssemos da “doação zero” para 62,5% de efetivação. Em apenas oito meses de caminhada (janeiro a agosto de 2018), foram oito casos de morte encefálica e cinco famílias consentiram a doação dos órgãos de seu familiar.
Desta forma, reforço o convite: venha conosco! Fale com sua família! Diga se você é ou não doador de órgãos. Fale também o motivo. Isso aliviará muito a sua família quando tiver que tomar uma decisão tão importante justamente no momento mais doloroso pelo inevitável da morte.
O que queremos é continuar promovendo a vida mesmo após o derradeiro da morte. E a nossa comunidade demonstrou que foi atenta às informações que passaram a receber e, mais ainda, demonstrou que generosidade é, sim, uma forte qualidade sua. Obrigada, famílias doadoras. Obrigada, Fundação Ecarta e Hospital Montenegro. E, obrigada Vale do Caí, que agora é um Vale Doador.
Tatiana Michelon
Médica Coordenadora da Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes