Finitude e Solidão

Tenho publicado em geral uma crônica ao mês. Fico pensando sobre a imensa capacidade intelectual e sobre o número de gigabytes do computador cerebral de alguns cronistas que, durante anos, encontram assunto para escrever todos os dias sobre temas os mais diversos. Aqui mesmo, no Jornal Ibiá, temos um grupo bem diversificado. Mesmo não sendo colunistas diários, comparecem com certa frequência e se saem muito bem. Estou, portanto, em muito boa companhia. Todos com o desafio de desenvolver um assunto com começo, meio e fim, num espaço que é limitado. Cada um com temas de sua expertise e estilo pessoal.

Tenho procurado trazer um pouco de meus limitados conhecimentos ou experiências de vida, provocando se possível, algum questionamento ou reflexão. E acho que o assunto que hoje vou abordar não é nem muito leve nem muito fácil, mas provocador. Quero falar um pouco de finitude e solidão.

Quase todos dizem que a vida tem duas certezas: o nascimento e a morte. E que o que muda e nos distingue, é o que fazemos entre as duas. Mas contraponho com uma terceira certeza: é que até morrer todos temos de estar vivos, não importa como. A vida tem, ou deveria ter, quatro fases: infância, adolescência, maturidade e velhice. Em relação à velhice, a maioria manifesta que não quer dar trabalho quando e se chegar lá. Pois os desaponto e digo: preparem-se para dar trabalho. Porque a maioria vai dar trabalho sim, vai ter de ser cuidado. Só quem morrer de repente, de infarto, AVC ou causa violenta, não vai precisar algum cuidado.

Costumo buscar fatos do passado, para não argumentar apenas com uma fotografia, mas com um filme, uma sequência de imagens ou realidades. Até algum tempo, as famílias eram numerosas e continuavam a viver muito próximas. E as mulheres tinham duas grandes missões: gerar filhos e cuidar de idosos. Tenho de lembrar ainda de uma tradição, pelos menos nas regiões de colonização de origem germânica. Não falo de outras etnias, por desconhecimento. Era costume que o filho mais velho herdasse a propriedade familiar, e junto, a incumbência de cuidar de seus pais idosos. Não existiam, por desnecessários, asilos ou “estabelecimentos de longa permanência”.

Hoje as famílias são pequenas. Um só filho ou poucos, que se espalham pelo mundo. As mulheres trabalham fora e acumulam jornadas . As uniões são, em geral, mais tardias e instáveis, e em muitos casos excluem a presença de filhos como projeto de vida.

Em relação ao cuidado dos idosos, não há que ter preconceito. O que é certo? O que é melhor? Pode ser o lar, e que bom quando pode ser. Mas pode ser a casa geriátrica. Depende da realidade de cada família. O melhor é o que é melhor. Mas numa situação ou noutra, o que não pode haver é abandono. E o abandono pode existir ao largar um velho no asilo, e nem mais visitá-lo. Mas pode haver abandono também dentro de casa. Quantos não são tolerados apenas pelo dinheiro de sua aposentaria ou pensão?

Mas quero falar, para finalizar, de uma outra situação de fim de vida, a meu ver, bem mais triste. Não li ainda nenhum estudo sociológico sobre o assunto. Daqui algum tempo, quem sabe trinta ou quarenta anos, parte não desprezível da população vai terminar a vida absolutamente só. Os pais já morreram, não têm filhos ou netos, irmãos ou sobrinhos. Absolutamente sós. Sem alguém para escolher o asilo em que ficar, ou receber a herança que deixar. Quem os assumirá? O Estado, entendido como ente público? Uma Promotoria especializada ? Pergunta incômoda. Resposta difícil. Que tristeza. Infelizmente, não é delírio de um colunista maluco.

Um grande abraço.

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