Dialogar é preciso

Os algoritmos que governam a rede estão programados para nos conectar àquilo que eles acham que estamos procurando. À medida que aceitamos esse filtro algorítmico, nos colocamos em silos de informação auto-reforçadores, onde todos os feeds, tweets e updates que recebemos e acessamos acabam ecoando nossos preconceitos, preferências e limitações. Assim, construímos muros cada vez mais altos que nos isolam de uma conversação mais ampla, pré-condição para um debate intelectual saudável. Em consequência, apesar de podermos acessar uma imensa riqueza de informações, nossa capacidade de discernimento fica prejudicada de tal forma que já temos dificuldade em diferenciar o que é verdade e o que é “Fake News”.

A maioria das pessoas acha que compreende o mundo com muito mais detalhe, coerência e profundidade do que realmente consegue. Somente quando enfrentados a sua incapacidade de explicar em detalhe e profundidade um determinado assunto dão-se conta do pouco que sabem. A isso se denomina Ilusão de Profundidade Explicativa e, atualmente, com o acesso fácil e abundante à informação, é um problema universal. O fenômeno é agravado devido a forma, muito superficial, em que a informação disponível é consumida. Nos estados Unidos, 60% das pessoas leem apenas as manchetes das notícias e nada mais. As grandes questões (políticas, científicas e geopolíticas) nos são apresentadas de uma forma sintética em tweets, vídeos virais, memes e newsletters, sem maior aprofundamento.

Em resumo, achamos que sabemos mais do que de fato sabemos; as informações que acessamos estão dirigidas a confirmar aquilo que já acreditamos; e não aprofundamos no estudo das questões que nos preocupam. Trata-se de um fenômeno preocupante e que explica a atual polarização do debate público, influência nossas posições políticas e define o grau de extremismo de nossas atitudes na defesa dessas posições.

Em qualquer campo de conhecimento, com frequência os mais ignorantes são os mais superconfiantes quanto à sua compreensão de tais domínios. Basta acompanhar qualquer discussão nas redes sociais para perceber a desfaçatez com que se pronunciam as maiores barbaridades. Somente a expertise em determinado tópico permite reconhecer sua complexidade. Ter que explicar um fenômeno nos força a confrontar essa complexidade e perceber nossa ignorância. Reconhecer que sabemos muito pouco sobre a grande complexidade da maioria dos temas econômicos e políticos, é um bom começo para combater os extremismos e o primeiro passo para superar nossas divisões.

Uma das grandes conquistas da Revolução Científica foi a de anular a intuição de que tudo acontece por uma razão. O universo não tem um propósito, não se preocupa com nossos desejos e, conforme a segunda lei da termodinâmica, tende ao caos. A ordem é uma exceção. A probabilidade das coisas darem errado é maior do que de darem certo. É da natureza do universo. Por isso, coisas ruins acontecem o tempo todo e vão seguir acontecendo. A vida é cheia de problemas. É melhor gastar nossas energias para descobrir como resolvê-los. Devemos valorizar e proteger os pequenos espaços de ordem benéfica que conseguimos conquistar com nosso esforço individual e enquanto sociedade. Se quisermos enfrentar os problemas, não adianta ficar buscando culpados por eles. Precisamos aplicar conhecimento e energia para superá-los e não deflagrar conflitos esperando que assim eles se resolvam.

Assim, precisamos de pessoas que derrubam muros, que conseguem estabelecer pontes entre grupos com visões e ideias divergentes, que promovam a compreensão da complexidade dos desafios e que consigam transformar nosso ecossistema de competitividade hostil em outro baseado em esperança, otimismo, respeito e compreensão mútua na busca de consensos e soluções para nossos grandes problemas.

Antonio Weck
Advogado

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