Vocês devem saber, e talvez estejam melhores informados que nós, sobre a situação atual da política boliviana (se não está, leia nosso resumo logo ali ao lado). E, depois de dias e dias de discussão, argumentos, leituras infinitas e conversa com bolivianos que estão no Chile, decidimos não ir para a Bolívia.
Esse não é um descarte total desse país do nosso roteiro. JAMAIS!! Temos muita curiosidade de conhecer a Bolívia, seus costumes, suas paisagens, seus personagens… afinal, somos apaixonados pelos povos latinos, né? Mas, agora não é o melhor momento para isso. Estamos acompanhando as manifestações nada pacíficas que andam acontecendo no país e, sem vergonha nenhuma, estamos com medo de entrar.
Sabemos de rodovias que foram destruídas, outras que estão trancadas por opositores e apoiadores do presidente Evo Morales, pessoas que já foram torturadas e agredidas, ônibus e casas incendiados e protestos bem fortes em diversos pontos do país. Pensamos que entrando no país estaremos muito expostos a tanta violência e não teremos liberdade de explorar o que realmente queremos.
Por favor, isso não quer dizer que estejamos alheios e não estejamos extremamente preocupados com a situação boliviana. São pessoas sofrendo, famílias presas em suas casas por medo e pânico, um povo sem líder, exposto às vontades de duas frentes bem fortes e vivendo uma grande crise civil e política. Porém, para o objetivo maior dessa expedição, a Bolívia não está com o cenário propício. Por isso, adiamos.
Estamos a somente 50 quilômetros da fronteira com a Bolívia, porém, decidimos que do Chile, vamos direto para o Peru. Não sabemos exatamente quando vamos conseguir entrar no país, se logo depois do Peru, se somente quando estivermos já em território brasileiro ou se em outra viagem. Mas, a Bolívia não ficou para “nunca mais”.
Resumindo a crise política boliviana
No dia 20 de outubro desse ano, Evo Morales foi reeleito, em primeiro turno, como presidente da Bolívia. Ele é presidente desde 2006, mas, nesse ano, mesmo antes do fim da contagem dos votos, protestos tomaram as ruas do país e simpatizantes de Carlos Mesa, seu opositor na corrida presidencial, denunciavam fraudes na apuração.
Depois de encerrar as apurações preliminares (nas quais, até ali, seria necessário segundo turno) e manter só a contagem definitiva, que é mais lenta e conta voto a voto, Evo Morales foi declarado presidente pela quarta vez, com 10,56 pontos a frente do segundo colocado.
Devido às denúncias, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o governo boliviano anunciaram que seria feita uma auditoria no processo eleitoral inteiro. Em 10 de novembro, a OEA divulgou um resultado preliminar, que apontou realmente a fraude e pediu uma nova eleição, o que foi acatado pelo presidente, que anunciou a segunda eleição presidencial do ano.
Mas isso não mudou nada e o povo seguiu indignadíssimo com tudo que tinha acontecido. Inclusive, Evo perdeu o apoio militar e concordou com um pedido dos chefes das Forças Armadas e da Polícia para que ele deixasse o cargo a fim de pacificar o país e acalmar os ânimos, deixando claro que tudo que estava acontecendo era um golpe cívico, político e policial.
No último domingo, dia 10, o presidente renunciou ao cargo e, no dia seguinte, foi para o México, país que lhe ofereceu asilo. A saída de Morales provocou comemorações, mas também uma nova onda de manifestações violentas em diversos pontos do país.
Onde estamos
Atualmente, estamos no Deserto do Atacama, no Chile. Queríamos já ter saído daqui, porém, estávamos esperando os próximos capítulos da crise boliviana. Estamos nos dividindo entre a cidade de San Pedro de Atacama e dias e noites no deserto mesmo. Esse é um dos pontos mais marcantes da viagem, e vamos falar mais sobre ele semana que vem.