Desde que chegamos ao Uruguai, na primeira semana de viagem, não passa um par de dias sem que tenhamos que falar do nosso presidente. Seja de maneira positiva ou negativa, Bolsonaro está superconhecido nos países vizinhos do Brasil e tem sido assunto recorrente entre os “hermanos”. É saber que somos brasileiros e surgem as frases: “E o Bolsonaro? O que pensam sobre ele?”
Um dia, em alguma das eternas retas das estradas argentinas, ficamos mais de 10 minutos conversando com um policial rodoviário sobre o presidente, suas ideias e convicções e como isso estava sendo visto de diferentes maneiras dentro do Brasil. Ele era um fã convicto do seu Jair. Em outro, a proprietária de um camping nem nos deixou argumentar, apenas queria falar sua visão sobre o líder brasileiro. Nesse caso, contra ele e contra tudo que falava e pregava.
No Uruguai, presenciamos uma discussão acalorada entre um senhor e uma jovem. Ele, a favor do Bolsonaro e de um certo candidato a presidente uruguaio que tinha uma campanha com propostas bem parecidas com as do brasileiro. Ela, o oposto: não poupou desaforos para falar de um e, muito menos, do outro.
Em todas as situações (e, acreditem, foram muitas), tentamos ser bem imparciais. Dentre os motivos, queremos saber como as pessoas estão enxergando o Brasil e o governo atual. Por aqui, ele já foi capa do jornal e assunto de programas de televisão e rádio por diversas vezes. Por isso, a população já tem uma opinião muito bem formada sobre ele, seu governo e suas ações. E tem sido muito legal ouvir e entender a visão dos outros, que, consequentemente, comparam e conseguem ver semelhanças e diferenças do nosso presidente com os governantes das suas próprias nações.
Temos nossas próprias convicções políticas? Claro! Penso que não podemos ser tão alienados a ponto de não saber e não conseguir argumentar e opinar sobre a situação do nosso país. Mas, aqui, estamos como argentinos, uruguaios, paraguaios, bolivianos e todas as outras nacionalidades que fazem fronteira com o Brasil: assistindo de longe, tentando entender todas as movimentações, torcendo para que tudo dê certo e que os governantes daí e daqui se espelhem apenas nas coisas boas uns dos outros.
“Oh, muchas gracias”
Acho que ninguém consegue pressupor a simpatia que as pessoas têm pela Kombi. Não sei se é o formato de pão de forma, se são as duas cores, se é a história antiga desse carro, se é a frente charmosinha, a grande quantidade de janelas, o bagageiro, ou tudo isso reunido. O fato é que, ao ver a Kombi em um estacionamento, na rua, na estrada, no mercado, o povo perde totalmente a vergonha e chega bem pertinho pra tirar fotos, filmar e puxar assunto.
Normalmente, o tema é o motor e se ela anda bem. Sim, na Argentina e no Chile, as kombis mais novas já “trintaram”. Então, modelos mais modernos com a lata inteirinha e bem cuidada são muito raros por aqui. Alguns olham e na hora dizem: “São do Brasil ou do Uruguai? ‘Hermosa’ assim, só podem ser do Brasil”.
No último mês, então, que estamos com o pessoal do “A Kombi Viajante”, somos o centro das atenções. Duas kombis bem bonitinhas, cuidadas, cheias de tralha em cima e com placa de Montenegro (sim, as duas ainda estão com o emplacamento antigo do Brasil), é óbvio que as pessoas ficam interessadas.
E, diferente de tudo que esperávamos da Argentina – talvez brasileiros já tenham sofrido com a não-hospitalidade dos argentinos, mas, seguramente, o preconceito do nosso povo em relação a eles é maior do que os problemas que já tivemos –, temos sido muito bem tratados por aqui. As pessoas, principalmente das cidades menores, querem saber como estamos, nos oferecem suas casas para dormirmos e tomarmos banho, são gentis e respeitosas.
Já são três meses (entre idas e vindas) nesse país. Já conhecemos e aprendemos muito, principalmente sobre esquecer pré-conceitos e nos permitir construir nossa opinião a partir das nossas próprias experiências. E tudo que temos a dizer é “Muchas gracias” aos elogios à Kombi e à coragem de viver na estrada, aos ensinamentos, a se esforçarem para entender nosso espanhol e a abrirem nossos olhos para o melhor de cada lugar.
Onde estamos
Adivinhem? EXATAMENTE, EM MENDOZA! Juro, nem a gente aguenta mais. Esperamos que quando vocês estejam lendo essa página, a peça da Analuz já tenha chegado e a gente já esteja se preparando para dar tchau à província do vinho. Uma coisa é certa: estamos aproveitando muito para economizar (sem o maior gasto que é gasolina) e curtir o melhor de cada lugarzinho em que paramos.