Não faz tanto tempo assim que uma criança engoliu parte de um brinquedo certificado para a idade como seguro pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), que é uma autarquia federal que terceiriza sua atividade-fim, que, dentre outras, está a de testar produtos potencialmente nocivos e autorizar ou não a sua comercialização.
Naquela oportunidade veio a público esta fragilidade, que é a possibilidade de este importante processo, que vai dos testes até a certificação, sofrer certas “influências” que culminam por, no mínimo, desacreditar a atuação do órgão, podendo chegar, como foi o caso, a causar a morte de consumidores.
Mais recentemente, em diversas operações policiais, torou-se pública a fraude no leite e seus derivados, mais uma vez demonstrando que a burocratização de processos de fiscalização e a atuação de órgãos públicos não resolve todos os problemas, pois a corrupção é, em alguns casos, mais poderosa que a fé, movendo montanhas e operando diversos milagres.
Já faz muito, mas muito tempo mesmo, que há uma reclamação constante e veemente por parte dos consumidores sobre a quantidade de água existente em frango congelado, que agora aparece com mais ênfase e com mais detalhes sobre a razão de ser desta prática, isto é, disfarçar o aspecto da carne, em alguns casos não só vencida, mas em estado de decomposição.
A operação policial da semana passada, que revelou a existência de esquemas de burla da fiscalização da qualidade da carne e seus derivados, mais uma vez demonstrou que, apesar de serem inúmeros os agentes confiáveis e que realmente exercem suas funções com seriedade, ainda se deposita todas as fichas de acreditação da qualidade de produtos como carne, leite, de segurança de produtos, etc., em processos de fiscalização que, por serem operados por pessoas, precisam ser revistos, pois a corrupção desvirtua tudo e compromete a segurança da imensa maioria da população.
Curiosamente, há uma preocupação por parte do Ministro da Agricultura não com a qualidade dos produtos e a confiabilidade dos processos de fiscalização que a pasta pela qual responde exerce, mas sim com forma como foi divulgada a operação policial.
Por outro lado, há setores da mídia que criticam estas divulgações, tachadas de “espetacularização da atuação da polícia”, que assombra uns poucos que, em virtude disto, não conseguem os conhecidos furos de reportagem ou os “vazamentos seletivos” e tão corriqueiros de documentos, o que ocorre até mesmo em processos judiciais sigilosos, que mais se prestam para demonstrar outro tipo de inconsistência e com várias perguntas sem resposta. Se o processo é sigiloso, como ocorrem vazamentos? Quem vaza? Quem tem acesso? Como? A que custo? Isto gera nulidades no processo?
Como já disse Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.