Precisa-se de “Lagartônibus”

A má conservação das estradas do interior está longe de ser uma novidade em Montenegro. Apesar do peso da produção primária na economia local, os agricultores sempre foram tratados como cidadãos de segunda linha. Não tem sido diferente no governo Kadu, apesar das reiteradas promessas feitas nos últimos anos. Há alguns dias, um ônibus de transporte escolar ficou atolado e outro quase virou, com alunos a bordo, porque derrapou no lamaçal. Tanto que um grupo de vereadores fez uma denúncia no Ministério Público porque entende que a vida de crianças e adolescentes está em perigo. A ação repercutiu muito mal no Palácio Rio Branco, mas foi importante por chamar a atenção para um problema que precisa ser enfrentado de frente e resolvido de uma vez por todas.

Equívoco – Para os vereadores, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura cometeu um erro ao abolir o uso de kombis no transporte escolar. Apesar de caberem menos alunos, os utilitários da Volkswagen são leves e possuem excelente tração e suspensão para enfrentar o barro e a buraqueira no interior. Além disso, são bem mais funcionais do que os ônibus na hora de manobrar. Reduzir despesas é importante, mas não ao custo da segurança dos estudantes e da eficiência do sistema.

Híbrido – A situação levou os críticos do governo a sugerirem o lançamento de um veículo híbrido para o transporte dos estudantes do interior. A carroceria teria o formato de um microônibus e o rodado, modelo esteira, ou “lagarta”, para encarar qualquer tipo de estrada. Quem sabe, as “Organizações Tabajara” dão um jeito de criar o “Lagartônibus”?

Segurança – A denúncia levada ao Ministério Público também aponta problemas de segurança nos coletivos, como falta de bancos e más condições de conservação. Certamente, antes de começarem a rodar, estes veículos passaram por uma criteriosa revisão pela fiscalização da Prefeitura. Espera-se que os vereadores tenham exagerado.

Às compras – Voltando à manutenção das estradas, a revolta das comunidades do interior é justa. Em junho do ano passado, a Administração Municipal encaminhou para a Câmara um projeto pedindo autorização para contratar um financiamento junto ao Banco do Brasil. São R$ 3,2 milhões, dos quais a maior parcela será aplicada na aquisição de máquinas e equipamentos usados na conservação das vias rurais. Na época, houve forte pressão para que a aprovação ocorresse imediatamente. Assim, prometia o prefeito, as compras ocorreriam até o final do ano e, já no verão, melhor época para arrumar as estradas, estariam à disposição das equipes. Adivinhem o que aconteceu?

Oito meses – Aconteceu o que muita gente esperava. Os vereadores cederam à pressão e aprovaram o projeto em 5 de julho, permitindo o início das conversações com o Banco para formalizar o empréstimo, a ser pago em 54 prestações. A contratação, porém, só foi oficializada em 20 de novembro e o edital, anunciando a abertura da licitação para a efetiva compra, saiu apenas no fim de fevereiro. Oito meses depois e nada das máquinas.

Parto – No reino animal, quanto maior o bicho, mais longa é a gestação. Uma égua prenha de um jumento, por exemplo, dá à luz um burro ou uma mula depois de 12 meses de espera. Por isso que, quando algo leva muito tempo para ocorrer, as pessoas costumam dizer que está demorando mais do que “parto de burro”. A compra das máquinas novas segue nesse rumo, para desespero de quem, logo ali, inicia a colheita dos citros.

Rapidinhas
* Ainda que seja o líder do governo na Câmara, o vereador Talis Ferreira (PR) tem inimigos poderosos dentro da Administração Municipal. O atendimento a seus pedidos e a implantação dos seus projetos ficará cada vez mais difícil.
* O vereador Neri Pena (PTB) aproveitou o Carnaval para colocar o bloco na rua. Cabelo gravou um vídeo em frente à Secretaria da Saúde e desceu a lenha na suspensão das atividades por quatro dias e meio, de sábado até as 12h de ontem. Como se a população não ficasse doente durante o reinado de Momo.
* Demorou, mas finalmente a Câmara abriu a CPI do Plano de Carreira. Em breve, a comunidade saberá o que rolou nos bastidores para que as despesas adicionais com pessoal, previstas em R$ 300 mil, chegassem a R$ 1,3 milhão. É possível que suas excelências descubram o óbvio: aquele primeiro valor era “fake”.
* A Câmara rejeitou, novamente e por unanimidade, o projeto que autorizava o repasse aos advogados da Prefeitura dos honorários de sucumbência. São valores que o perdedor em um processo paga ao defensor de quem venceu. Como os procuradores já recebem salário independente do desempenho, não levaram.

Leitura obrigatória
O presidente da Câmara de Vereadores, Cristiano Braatz (MDB), aproveitou o Carnaval para descansar no litoral. E, enquanto dourava o “toicinho” ao sol, colocou as leituras em dia, devorando a obra “A sutil arte de ligar o foda-se”. Escrita por Mark Ma

nson, a obra virou queridinha dos aficionados por autoajuda, ao dizer na cara do leitor que talvez ele não seja tão especial quanto pensa e que a vida é mais cheia de problemas

do que de soluções.

Humildade – No livro, Manson sugere que não adianta se esforçar, pois a felicidade plena não existe. Neste contexto, “ligar o foda-se” seria aceitar esta realidade e, como resultado, livrar-se de boa parte das pressões sociais que provocam medo e angústia. Uma bela lição de humildade e choque de realidade. Deveria ser leitura obrigatória entre os políticos. Pelo menos entre aqueles que estão dispostos a “evoluir”.

Água no chope
A Administração Municipal conseguiu realizar uma façanha, na última sessão da Câmara, ao estragar uma “festa” que ela mesma organizou. Estava tudo pronto para a votação do projeto de lei que concede incentivos aos donos de prédios históricos dispostos a preservá-los. O texto foi elaborado pelo próprio governo e tinha o aval das assessorias jurídicas do prefeito e do Legislativo. O Movimento de Preservação do Patrimônio Histórico até pediu para usar a tribuna e elogiar a iniciativa, que colocava fim a uma espera de vários anos.

Vaias – Estava tudo pronto para a “comemoração” quando o prefeito mandou retirar o texto da pauta da sessão, alegando que ele precisa de novos ajustes. Mais tarde, em nota, o governo anunciou que faltava um estudo de impacto das isenções sobre a arrecadação. Os aplausos se tornaram vaias e o que era para ser uma festa acabou se transformando em velório.

Dúvidas, ainda? – Curioso que ainda pairasse esse tipo de dúvida sobre o projeto no dia da votação. Ou o prefeito Kadu anda muito mal assessorado na área jurídica ou precisa urgentemente de aconselhamento político. Quando alguém joga água no chope de uma festa, algo está muito errado.

Questão de prioridade
A realização de uma festa de Carnaval, neste sábado, causa barulho nas redes sociais desde o final de semana. É que o evento vai custar R$ 10.500,00 aos cofres públicos e ocorrerá na Estação da Cultura. Muita gente entende que, como falta dinheiro para tudo, o valor deveria ser aplicado em outras áreas.

Ganho real – A crítica faz sentido, mas é preciso esclarecer que não está faltando dinheiro. O que falta é a definição de prioridades. Se a Prefeitura dá aumentos salariais maiores do que a lei exige aos servidores, não se pode falar em crise.

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