Inaugurado em 1904, o Cais do Porto tem sido motivo de dores de cabeça para os prefeitos de Montenegro há muito tempo. Todos os inquilinos do Palácio Branco nos últimos 25 anos enfrentaram pelo menos um episódio de desmoronamento como o desta sexta, com recuperação sempre cara aos cofres públicos. Os problemas foram atacados – e resolvidos – pontualmente, sem maiores preocupações com o todo. A estrutura possui em torno de 1,3 quilômetro de extensão e a idade da obra, açoitada anualmente pelas enchentes e pelo intenso fluxo de veículos, sofre um desgaste natural perfeitamente compreensível. Difícil é compreender por que, sabendo disso, os prefeitos ainda não se preocuparam com a elaboração de um estudo de ameaças e de recuperação de toda a orla. Agora mesmo, um trecho de vários metros nas proximidades da esquina com a Ramiro Barcelos ruiu. Há meses, as rachaduras indicavam que ocorreria, mas nada foi feito para impedir ou antecipar a busca de uma solução.
Pensar o todo – Chama a atenção, neste caso, o fato de a Administração Municipal estar contratando obras de revitalização e embelezamento para um trecho pouco adiante, em frente à Câmara de Vereadores. A maior parte dos recursos vêm do governo federal e será aplicada porque alguém, algum dia, achou que seria interessante fazer uma interveção no local. Como se o Cais não fosse um complexo maior, cuja apresentação deve ser padronizada, respeitando as suas características históricas originais.
Diferente – O prefeito Kadu Müller tem a chance de provar que é um político diferente. Pode trocar uma cirurgia estética por um programa de condicionamento físico. Se quiser…
Troca – Lideranças do Movimento de Preservação do Patrimônio Histórico, atentas ao que está ocorrendo, começaram a pressionar a Prefeitura para que não realize agora o embelezamento previsto para a frente da Câmara de Vereadores. Que o dinheiro destinado às melhorias – em torno de R$ 243 mil – seja empregado na elaboração de um grande projeto de recuperação do complexo todo. Óbvio que estas intervenções custarão caro.
Desperdício – O raciocínio é muito simples, mas aparentemente inalcançável para os políticos. Não adianta fazer o embelezamento de um pequeno trecho se, a poucos metros dali, a estrutura caiu. É mais ou menos como trocar as janelas de uma casa que já está sem telhado e cujas paredes foram eficientemente devoradas pelos cupins.
Lógica – O que é lógico, infelizmente, não faz sentido para muitos políticos. Uma demanda dessa grandeza requer planejamento e execução que extrapolam os quatro anos de um mandato. E, por aqui, projetos inacabados costumam ser abandonados. Cada prefeito quer deixar a sua marca, nem que isso resulte numa enorme gambiarra.
Deu a lógica na Saúde
O prefeito Kadu Müller anunciou, na manhã de sexta-feira, o nome da nova secretária municipal da Saúde. O cargo será ocupado pela enfermeira Cristina Reinheimer, que já vinha atuando na pasta na condição de assessora. Ela também dirigiu a saúde pública em Pareci Novo, no governo do ex-prefeito Rafael Riffel, atualmente secretário de Gestão e Planejamento de Montenegro. O próprio Kadu vinha respondendo interinamente pela função desde a demissão de Ana Maria Rodrigues. A opção por Cristina está dentro do script. Desde que chegou ao governo, pelas mãos de Rafael, ela era citada como alternativa para a função.
Quebra de decoro parlamentar?
Quem vive um momento difícil é o prefeito de Pareci Novo, Oregino José Francisco. Sua esposa, Maria Lourdes Francisco, vereadora pelo PDT, foi flagrada por câmeras de segurança vandalizando uma casa pertencente ao presidente da Câmara, Inácio Mendel, do PMDB. O que parecia ser uma briga política, já que as duas legendas são adversárias na cidade, assumiu contornos mais dramáticos, com a internação da vereadora por problemas emocionais, e a constatação de que ela fez ataques também à casa da sogra e a sua própria residência, em Despique.
Decoro – O comportamento da vereadora, segundo o prefeito, é decorrente das pressões que o exercício do mandato impõe. Lourdes já teria tido depressão severa em outros momentos. Alguns colegas até admitem que isso seja possível, mas avaliam se, independente da motivação, o vandalismo caracteriza quebra de decoro parlamentar, punido com a cassação do mandato.
Saúde – Se a vereadora está mesmo doente, como afirma o prefeito, incapaz de lidar com as pressões do cargo, alguns colegas acham que ela deve renunciar. Livre das pressões, a recuperação seria mais rápida. Saúde em primeiro lugar!
Rapidinhas
* Na próxima quarta, às 18h30, a Câmara de Vereadores promove sessão solene alusiva à Semana da Pátria. Não esqueçam, vereadores: só entram se estiverem de terno e gravata.
* Lideranças do partido informam que, se o nome do ex-prefeito Percival de Oliveira estiver na urna eletrônica em 2020, não será como candidato do PTB. Parece que ele nem queria mesmo.
* O povo tá vendo a Prefeitura instalando abrigos novos nas paradas de ônibus do Centro e levando os velhos, após recauchutagem, para as vilas. Dona Maria e seu João moram na periferia e querem saber por que os equipamentos zerados não foram diretamente para lá. Será que não merecem?
* Não se pode chamar de democrático um sistema em que alguns candidatos a governador e a presidente possuem, sozinhos, mais de um terço do horário de propoaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, enquanto outros recebem apenas 8 segundos.
Apoio às empresas
O vereador Joel Kerber (Progressistas) apresentou uma sugestão curiosa ao prefeito Kadu Müller. Ele propõe que não sejam mais efetuadas concessões de imóveis para a iniciativa privada, face à dificuldade de fiscalização das contrapartidas e a retomada posterior. Levando em conta que a atração de novos investimentos sempre foi feita desta forma, o ideal seria que sua excelência apresentasse uma alternativa.
Aliás – É importante lembrar que a cedência destes espaços, em geral para indústrias, só ocorre com a aprovação prévia da Câmara de Vereadores.
Causa própria – Oriundo do ramo imobiliário, Kerber sabe que, dependendo do empreendimento, são necessárias áreas grandes, muitas vezes caras. Se a Prefeitura não puder ajudar, o empresário desiste do investimento. Só quem ganha com uma sugestão dessas são as… imobiliárias, que venderão mais terrenos. Advogando em causa própria, vereador?
Indigência – A sugestão de Joel Kerber beira a indigência intelectual. O poder público tem se mostrado muito hábil em cobrar impostos. Inclusive, elevou o ISSQN com o apoio da Câmara, asfixiando os empresários sem a menor cerimônia. E agora ainda se propõe o fim de um incentivo fiscal que já trouxe muitas empresas à cidade. Com vereadores assim…