A população montenegrina fez uma aposta no “novo” neste domingo, ao eleger para a Prefeitura Gustavo Zanatta e Cristiano Braatz, da coligação “Novos Caminhos, Nova Cidade”. Fisioterapeuta, o futuro chefe do Executivo tem 41 anos e é um dos políticos mais jovens a chegarem ao Palácio Rio Branco. O “recorde”, por enquanto, é de Roberto Atayde Cardona, que tinha 38 quando sentou na mesma cadeira, em 1973. A dupla, que muitos passaram a chamar de “os guris”, superou Percival de Oliveira, um ex-prefeito experiente, com dois mandatos e uma longa folha de serviços à comunidade; e o atual chefe do Executivo, que era vice e herdou o cargo quando o titular, Luiz Américo Aldana, foi cassado. Além deles, mais um aspirante do PT, Professor Ricardo, e outro do PSDB, Márcio Menezes. Neste contexto, obter 12.376 votos, que equivalem a 39,46% do total, é uma façanha e tanto.
Comunicação – A campanha vitoriosa “dos guris” é fruto de uma composição de vários fatores, começando pela estratégia de comunicação. A equipe de marketing soube “vender” muito bem as ideias de renovação e de esperança, num cenário em que os principais adversários eram políticos mais tradicionais. Desde os primeiros movimentos até a festa da vitória, a “onda verde” foi crescendo, amparada, primeiro, pelo carisma dos candidatos e, segundo, por ações eficientes de divulgação.
Simples e criativo – Ao contrário de Percival e Kadu, que gravaram apenas um programa, Zanatta valorizou o horário eleitoral gratuito, com peças segmentadas que depois foram replicadas nas redes sociais. Entre outras iniciativas, criou um quadro em que passeava de carro com os eleitores pelos bairros e ouvia seus problemas. Na Praça Rui Barbosa, instalou um varal onde as queixas da comunidade eram anotadas e ficavam expostas. Ações simples, mas que geraram empatia. Demonstraram interesse por aquilo que os montenegrinos consideram importante.
Tropeços – De outro lado, os adversários erraram a mão em alguns momentos. Kadu Müller valeu-se da condição de prefeito para realizar agora, nas vésperas da eleição, obras e serviços aguardados há anos pela comunidade. Muita gente viu a atitude como oportunismo e passou a criticá-lo abertamente. Também os coordenadores de campanha do ex-prefeito Percival tropeçaram na arrogância quando prometeram “carreata de gente grande” e disseram que só a experiência dele era capaz de resolver os problemas da cidade.
Esquecidos – O desempenho de Percival também foi prejudicado pelo tempo em que está afastado das funções públicas. Prefeito entre 2005 e 2012, depois de três mandatos como vereador, o candidato do Republicanos está sem cargo há oito anos. Muita gente já não lembra de suas obras e conquistas. Percival havia tentado voltar em 2016, mas como concorreu impugnado até as vésperas de pleito, acabou em quarto lugar. Desta vez, ficou em terceiro, com pouco mais da metade dos votos obtidos em 2004, em sua primeira disputa (veja o quadro).
Pandemia – Também é provável que Percival fosse o preferido entre os mais velhos, a fatia do eleitorado mais suscetível à Covid-19. Muitos deixaram de votar porque não se sentiram seguros para sair de casa, o que pode ter impactado na votação do candidato republicano.
É o fim? – Algumas pessoas se perguntam se a segunda derrota consecutiva representa o fim da carreira de Percival de Oliveira. Pouco provável. Ele tem a Política no sangue e, aos 63 anos, muito tempo para disputar novos cargos. A menos que algum problema de saúde o impeça.
Futuro – O mesmo se pode dizer de Kadu Müller. Os 9.190 votos conquistados neste domingo o credenciam para novas disputas, como a deputado estadual, por exemplo. Embora tenha sido derrotado agora, percentualmente, seu desempenho foi melhor do que o de 2016. Na época, ele era vice de Luiz Américo Aldana e a dupla somou 27,43% dos votos. Agora, como cabeça de chapa, obteve 29,30%.
Compromisso – Ainda que tenha vencido com uma sólida vantagem sobre os adversários, os números finais trazem uma informação que não pode ser desprezada. Considerando as abstenções – eleitores que não foram às urnas pelos mais diversos motivos – os brancos, os nulos e os votos conquistados pelos demais candidatos, Zanatta e Cristiano têm o aval de apenas um quarto dos montenegrinos aptos a votar (26%). É um número importante porque estas pessoas, que não têm compromisso com a chapa vencedora, não se levantarão para defendê-la em caso de necessidade.
Recorde – O índice de abstenção, como já se esperava, foi o mais alto da história. Lógico que tem a ver com a pandemia, mas também é verdade que o descrédito nos políticos e a multa inferior a R$ 4,00 cobrada pela Justiça Eleitoral dos faltosos têm muito a ver com isso. Neste domingo, 12.834 montenegrinos renunciaram ao direito de votar, representando 27,02% dos inscritos. São 458 pessoas a mais do que aquelas que escolheram o futuro prefeito.
Um quarto – Se o índice de abstenções foi recorde, o prêmio de consolação é uma sensível redução no número de votos brancos e nulos. No domingo, eles somaram 3.298 contra 4.118 de quatro anos atrás. Sinal de que os eleitores que foram às urnas, em sua maioria, estavam menos dispostos a “protestar” do que em 2016.
Humildade – Nas entrevistas que concedeu depois das eleições, o prefeito eleito assumiu um tom apropriadamente humilde. Diz que reconhece o papel dos vereadores e que vai procurar convencê-los de que os interesses da cidade estão acima dos políticos e, na medida do possível, atenderá a todos. Zanatta sabe que vencer a eleição foi apenas o primeiro passo e que muita gente desconfia da sua capacidade de construir a “nova cidade” prometida na campanha.
Sem densidade – Um dos números que mais chamou a atenção na contagem final dos votos foi o fraco desempenho da candidatura do PSDB. Os tucanos Márcio Menezes e Eliza Fukuoka somaram apenas 974 votos, que correspondem a 3,11% dos eleitores. Para fins de comparação, o candidato tucano mais votado para a Câmara, Alemão Baumcar, conquistou 640, sem um décimo da projeção e dos espaços disponibilizados pela mídia para a chapa majoritária.
Viaduto – Tanto Márcio quanto Eliza são pouco conhecidos, embora o candidato a prefeito tenha integrado a equipe de Paulo Azeredo entre 2013 e 2015. Também não ajudou a candidatura a decisão de centralizar o discurso sobre a solução dos problemas na travessia da RSC-287. A construção de um viaduto com recursos próprios do Município foi entendida como mera promessa eleitoreira pela comunidade.
Encolhimento – Ricardo Kraemer e Liliane Souza, do PT, terminaram a disputa com 1.663 votos, que correspondem a 5,3% do total. Igualmente um desempenho ruim se comparado ao de 2012, última vez em que a legenda da estrela teve candidatura própria. Há oito anos, Heitor Lermen somou 4.430 votos. O processo de “encolhimento” do partido, registrado em todo o país, manifesta-se também em Montenegro.
Qualidade – O aspecto positivo é que a candidatura do Professor Ricardo qualificou a disputa, trazendo para a campanha temas como a valorização das minorias, do meio ambiente e da cultura, que os partidos mais conservadores costumam negligenciar. O fato de Ricardo ter sido escolhido para a chapa majoritária apenas horas antes do prazo limite também impactou seu desempenho.
Denúncias – Escrutinadas as urnas, agora a corrida dos partidos e dos candidatos vencedores é pelo fechamento das contas de campanha. Também devem começar a “pipocar” denúncias de irregularidades, compras de votos e “otras cositas más” que costumam marcar a ressaca eleitoral em Montenegro. Até hoje, existem processos referentes à eleição de 2016 tramitando. Via de regra, prestam-se mais a fazer barulho do que a uma mudança de fato.
Transição – Vencida a euforia da vitória, Gustavo Zanatta e Cristiano Braatz começam a tratar da transição. Um grupo com representantes dos partidos vencedores deve ser formado nos próximos dias para dialogar com o prefeito Kadu e “tomar pé” da situação. É provável que, nesta composição, já apareçam algumas pessoas que farão parte do futuro secretariado.

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O renascimento de Azeredo
Expulso da Prefeitura em maio de 2015, quando teve o mandato de prefeito cassado por causa da desastrosa construção de uma ciclovia no meio da Rua Capitão Cruz, Paulo Azeredo é um dos grandes vencedores da eleição 2020. Domingo, com 1.542 votos, ele foi o vereador mais votado deste pleito, o único do PDT, legenda que controla há quase 30 anos. A vitória parece ser um recomeço. Foi na Câmara que ele deu seus primeiros passos na política, em 1989. Depois conquistou cinco mandatos de deputado estadual e a chefia do Executivo. Na atual legislatura, é suplente, mas agora, sem as amarras de uma impugnação, conseguiu um desempenho que surpreendeu muita gente.
Diferenças – É grande a expectativa sobre como Azeredo vai se comportar na Câmara. Representante da oposição, ele tem contas pessoais pendentes com Zanatta. Em 2015, o prefeito eleito era vereador e presidiu a comissão processante que levou ao Impeachment. Agora, as posições estão invertidas.
Virou moda – Pode parecer estranho falar em Impeachment antes mesmo da posse de um prefeito, mas o histórico de Montenegro obriga a isso. Os dois últimos chefes do Executivo escolhidos pela comunidade não encerraram seus mandatos e Kadu Müller foi alvo de várias tentativas. Como virou “moda”…
Apoio – Dos seis vereadores que concorriam à reeleição, quatro tiveram sucesso nas urnas: Talis Ferreira (PP), Felipe Kinn da Silva (MDB), Juarez Vieira da Silva (PTB) e Valdeci Alves de Castro (REP). Quatro dos eleitos nunca tiveram mandato – Sérgio de Souza (PSB), Gustavo Oliveira (PP), Ana Paula Machado (PTB) e Carmila Carolina de Oliveira (REP) – e outros dois estão retornando – Paulo Azeredo (PDT) e Ari Müller (PP). Os partidos que apóiam Zanatta e Cristiano (PTB e MDB) possuem apenas três assentos, o que vai obrigar o governo a negociar em troca de votos para os seus projetos.
Crescimento – Dos quatro vereadores reeleitos, apenas Talis Ferreira, do Progressistas, conseguiu ampliar sua votação em relação a 2016. Há quatro anos, ainda no antigo PR, Talis foi o quarto colocado, com 901 votos. Na época, seu partido estava coligado na disputa proporcional com o PDT. Desta vez, ele é o segundo no ranking, com 1.339, e se firma como uma nova liderança no cenário político montenegrino.
Alerta – Já os vereadores Juarez Vieira da Silva (PTB), Felipe Kinn (MDB) e Valdeci Alves de Castro tomaram um susto nas urnas. O trio, que votou afinado contra o prefeito Kadu nas matérias mais polêmicas, perdeu votos importantes. Juarez caiu de 658 para 591; Felipe foi de 730 para 566; e Valdeci, que somou 690 há quatro anos, agora teve 514. Parece que os eleitores mandaram um recado à “oposição”.
Cunhados – Curiosa será a relação entre Paulo Azeredo e Ari Müller. Os dois são cunhados, mas estavam rompidos há quatro anos porque, em 2016, mesmo impugnado, Azeredo decidiu concorrer a vereador. Como fazem votos no mesmo segmento, ambos ficaram de fora. Desta vez, porém, os dois se elegeram. Müller fez 641 votos, menos da metade dos conquistados pelo ex-prefeito. Será que a paz volta a reinar?
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Rapidinhas
O sistema proporcional de divisão das cadeiras na Câmara, que valoriza mais o desempenho dos partidos que dos candidatos, fez seis vítimas. Ezequiel Souza (636), Marcelino da Rosa (619), Rodrigo Corrêa (591), Sarita Silva (561), Giovani Bender (536) e Leone Bozzetto (528) tiveram mais votos que o último eleito, Valdeci de Castro (514), mas ficaram de fora.
A defesa contundente que fez do prefeito Kadu na Câmara custou caro ao vereador Joel Kerber (Progressistas). Eleito em 2016 com 581 votos, foi demitido pelos eleitores. Domingo, fez apenas 356.
A Câmara de Vereadores seguirá com duas mulheres em sua composição. No lugar de Josi Paz e Rose Almeida, que não concorreram à reeleição, assumem Camila Carolina de Oliveira, do Republicanos; e Ana Paula Machado, do PTB.
Camila chega ao Legislativo como principal embaixadora do “bolsonarismo” em Montenegro. Liderança de Direita, é a única com perfil ideológico bem definido na nova composição da Câmara.
Embora novata, Ana Paula Machado vai para a Câmara com conhecimentos sólidos sobre as rotinas do parlamento. Por vários anos, ela foi assessora do ex-vereador Carlos Einar de Mello, o Naná, a quem considera uma espécie de mentor.
Grande aposta do Progressistas, o advogado Gustavo Oliveira fez emblemáticos 1.111 votos no domingo. Filho do ex-vereador Valmir Airton de Oliveira, que esteve na Câmara entre 1983 e 1992, segue os passos do pai e é visto como opção para voos mais altos no futuro, dentro de um processo de renovação da legenda.
Se bem que, considerando o resultado da eleição, melhor esquecer a palavra “voos” por algum tempo.
Outra cara nova – “pero no mucho” – na composição da Câmara é Sérgio Souza. Em 2016, ele ficou como suplente do PDT e chegou a assumir temporariamente. Agora no PSB, conquistou um mandato só seu, graças à confiança de 1.255 eleitores.
Derrotados na eleição para o Executivo com Kadu e Josi, o Progressistas e seus aliados foram os vitoriosos na disputa pela Câmara, com a conquista de quatro cadeiras. Os representantes de Zanatta e Percival obtiveram três cada um.
Em termos partidários, a composição do parlamento nos próximos quatro anos não se alterou. Continuam representados Progressistas, Republicanos, PTB, PSB, PDT e MDB.