Com o tempo de campanha eleitoral reduzido praticamente à metade e a proibição de doações por empresas, a busca por votos, especialmente nas eleições proporcionais, virou uma grande dor de cabeça aos que desejam uma cadeira na Assembleia Legislativa ou na Câmara dos Deputados. São muitos candidatos e é impossível estar mais próximo dos eleitores, em caminhadas e visitas domiciliares. Neste cenário, os cabos eleitorais mais disputados são os vereadores. Por estarem perto da população e já terem seu público, é a eles que muitos recorrem para voos mais altos. Dos dez legisladores montenegrinos, pelo menos nove estão nas ruas distribuindo panfletos e pedindo votos neste pleito. A grande maioria para aspirantes do seu próprio partido, uma demonstração de fidelidade que, às vezes, ocorre mais por conveniência do que por convicção de que fizeram a melhor escolha,
Bandeira – No momento, o único “infiel” é Talis Ferreira. Eleito vereador pelo PR em 2016, ele apóia Giovani Cherini, da mesma legenda, para a Câmara dos Deputados. Já para a Assembleia, gravou depoimentos pedindo votos para o emedebista Waldir João Kleber. Talis diz que a decisão leva em conta o fato de o médico ser o “novo” na Política local e ter na Saúde, como ele, sua principal bandeira.
Traição – O apoio do vereador Talis a Waldir Kleber está gerando muitas críticas dentro do PDT. Lideranças brizolistas, inclusive, referem-se a ele como “traidor”, por entenderem que deveria estar pedindo votos para o candidato Paulo Azeredo. Para entender, é preciso recuar um pouco no tempo. Em 2013, quando assumiu o cargo de prefeito, Paulo levou Talis para o governo, junto com ele, em cargos de confiança. Nas eleições seguintes, o PR estava coligado com o PDT e, sem seus votos, o vereador não teria conquistado um mandato no Legislativo.
Afastamento – O vereador, porém, não se sente em débito nem com o ex-prefeito cassado e candidato a deputado estadual, Paulo Azeredo, e nem com o PDT. “O PDT nunca buscou uma aproximação comigo. Ao contrário, fez de tudo para me afastar”, alega Talis. Ele explica que, na Câmara, Erico Velten, que hoje preside a legenda, votou contra todas as suas iniciativas. “Cheguei a sair de licença por alguns dias para que meu suplente, o Sergio Souza, que é do PDT, pudesse assumir, e ele votou contra minhas propostas que estavam em tramitação”, reclama.
Peso partidário – Entre os demais vereadores, foram justamente os vínculos partidários que mais pesaram na hora de definir quem será apoiado. Por não terem representantes no Legislativo, os candidatos locais Chacall (PV), Márcio Müller (Solidariedade), Nei da Kombi (Pros) e Rodrigo Corrêa (PCdoB) não possuem vereadores entre seus cabos eleitorais.
Retribuição – Os critérios utilizados por suas excelências para decidir quem apoiar são variados. A maioria optou por políticos com mandato, que já ajudaram a encaminhar suas demandas. É o caso de Joel Kerber, do Progressistas. Para federal, ele apoia o ex-secretário dos Transportes, Pedro Westphalen, que considera o grande responsável pela entrega da manutenção de parte da RSC-287 à Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). Graças a isso, logo haverá obras de melhorias na estrada.
Agricultura – A vereadora Josi Paz, do PSB, decidiu pedir votos para Heitor Schuh (federal) e Elton Weber (estadual), parlamentares ligados à agricultura familiar. Filha de produtores rurais, é a eles que recorre quando tem alguma iniciativa voltada aos homem do campo.
Na frente – O apoio dos vereadores costuma ser o pagamento pela destinação de verbas em emendas ao Orçamento da União. Funciona assim: o edil define um segmento ou programa que deseja atender na cidade e pede ajuda ao parlamentar. O dinheiro vem para o Município, que faz a aplicação na área pré-estabelecida. Nesta linha, logicamente, saem na frente os candidatos que já estão no poder. Os novatos têm muito mais dificuldades para conseguir ajuda na corrida pelos votos.
Investimento em risco
Esta semana, em mais um desdobramento da Operação Lava Jato, a Justiça determinou a prisão do ex-governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), e, entre outros, do empresário Joel Malucelli. A empresa que ele controla, suspeita de fraudes em licitações, será a responsável por um investimento da ordem de R$ 100 milhões em Montenegro, onde pretende instalar uma usina de biocombustíveis. O empreendimento já tem o aval do governo gaúcho e deve produzir 35.000 m³/dia de biometano, 40 toneladas/dia de dióxido de carbono (CO2), 4.000 ton/mês de biofertilizante, além de energia térmica e elétrica a partir de 2019.
Perdas – Embora ninguém queira falar sobre o assunto, há um temor de que o empreendimento seja adiado e até mesmo cancelado. O que deixa os envolvidos um pouco mais tranquilos é que as investigações da Lava Jato não têm como foco o segmento ambiental do grupo. Para a região toda e especialmente para Montenegro, seria uma grande perda.
Por mais saúde
Esta semana, o vereador Talis Ferreira (PR) teve uma audiência com o secretário estadual da Saúde, Francisco Paz. Em pauta, os cortes de verbas para o Hospital Montenegro, que vêm resultando em diminuição de atendimentos e ameaçam novamente a saúde financeira da instituição. O secretário prometeu que vai se reunir com o corpo técnico e procurar a direção do HM para dialogar. Já é hora. Até parece que, dentro do governo do Estado, existem “forças ocultas” trabalhando contra o Hospital, referência para 14 cidades.
Rapidinha
* Pela primeira vez na história, a Câmara de Vereadores terá uma gestante no plenário. Josi Paz (PSB) está grávida do terceiro filho.
* A troca de comando na Secretaria da Saúde não tornou mais fácil o acesso às informações de interesse da comunidade. O Jornal Ibiá teve de esperar quase 20 dias para ter uma lista com os serviços prestados em cada unidade mantida pela Prefeitura, tema de reportagem publicada ontem.
* Os tradicionalistas insistiram e a Prefeitura cedeu: vai haver acampamento farroupilha no Parque Centenário, apesar das restrições de saneamento e de energia elétrica. Gaudério “raiz” está acostumado à falta de conforto.
* O prefeito Kadu vai oficializar, através de lei, a Feira Municipal de Iniciação Científica, a Ferural e a Feurbana. Com a votação prevista para hoje, é uma forma de garantir que os eventos ocorram independente de quem estiver no poder.
* Pode parecer exagero e até preciocismo regulamentar, em lei, algo tão importante para a Educação. Mas olhando nosso passado recente, em que os inquilinos do Palácio Rio Branco tentaram revogar até a “lei do bom senso”, melhor prevenir.
* A poucas semanas das eleições, o governo do Estado resolveu prometer aumento de efetivo da Brigada Militar para a região. Justamente agora!
* O Conselho de Ética da Câmara se reuniu ontem para discutir a denúncias de extorsão e assédio feitas por uma ex-assessora ao presidente Erico Velten (PDT). O grupo vai esperar para agir depois que for concluído o inquérito policial sobre o caso.