Existem pessoas que são como lagos. Gigantes, impassíveis, serenos.
São aqueles ao lado de quem sentamos calados. Repousamos em seu silêncio e apreciamos sua constância. Que nos dão a quase certeza da perenidade, do infinito. Dia após dia, podemos recorrer a suas águas para buscar o alimento, buscar a saciedade da sede de solidão, buscar a segurança de águas calmas e refletivas.
Águas que fazem duplicar o tamanho das montanhas que repousam no espelho de sua superfície, águas que refletem o infinito do céu, suas cores e suas tonalidades. Águas que se movimentam tranquilamente pelo chacoalhar dos ventos, águas que transmitem a energia do olhar calmo e paciente.
Existem pessoas que são como lagos.
Que nos refletem em sua superfície tal qual somos. Que não escondem nossos defeitos, nosso humor, nosso estado de espírito. Que devolvem ao nosso olhar aquilo que emitimos, a imagem do que somos.
Aqueles que amenizam o calor com o frescor de seu abraço. Que limpam e purificam nossa existência. Que ocupam os espaços e enchem de vida.
Existem pessoas que são como lagos, de margens nem sempre definidas, pois no movimento dos ventos, nas alterações das tempestades, ou no calor da estiagem, suas margens, seus limites também se alteram, seja invadindo espaços, seja recolhendo-se ao seu íntimo. Mas lagos que nos dão a certeza de que, em breve, esses limites serão restabelecidos, suas margens retornarão à sua posição inicial e, então, o mesmo lago se fará presente novamente.
Existem pessoas que são como lagos, independentemente de suas águas, independentemente de seu conteúdo, independentemente de seu tempo. São lagos por vezes cristalinos, por vezes enturvecidos. São lagos refletivos ou opacos, são lagos.
E dessa forma se resumem, ou são resumidos.
Pessoas de grandeza serena e presença constante, que estão ali, em seu silencio reflexivo, a observar as intempéries da vida, as inconstâncias existenciais e os humores do cosmo. A entregar o frescor nos dias quentes com abraços verdadeiros, a saciar a sede do conhecimento com suas águas calmas, a refletir em seus olhos nossa essência, o que somos no íntimo de nossa alma, as belezas e as feiuras de nossos mistérios verdadeiros.
Pessoas que não precisam de som para se impor, pois a imposição é natural, é visual. Que não se incomodam em refletir ainda com maior entusiasmo os gigantes, nem em ocultar a luz nos dias escuros.
Pessoas que são o que são, pelo simples fato de poderem ser.
Pessoas que podem ser eu, que podem ser você.
Mas o importante é que nos enchem a alma com a certeza de que existem pessoas, que são como lagos.