Sobre ritos de passagem

Tenho ouvido muita gente contando os dias para que 2021 chegue logo. Já teve até gente e marcas que manifestaram interesse em festejar o Reveillon antecipadamente. A razão, todo mundo conhece. O ano que se encaminha para o fim foi realmente muito difícil. Não para alguns, mas para todos, englobando o planeta inteiro. 2020 entrará para a história como um ano atípico no pior dos sentidos e é justo que todos desejemos deixá-lo para trás.

A gente sabe que não é simplesmente uma virada de calendário que faz os problemas ficarem para trás, mas, inegavelmente, precisamos do rito de passagem que é a festa de final de ano para findar um período e levar ao outro apenas energias boas e muita – muita mesmo – energia para vencer os desafios que chegam. E assim é com os demais ritos de passagem. Eles, sozinhos, não mudam nada, mas influenciam a nossa forma de encarar a vida. Lá no fundo a gente sabe que não é no dia do aniversário que envelhecemos mais um ano, mas sim no decorrer dos últimos 12 meses. Mas pergunta para uma mulher que acabara de chegar aos 30 se aquele aniversário não traz um peso diferente aos ombros?

Eu sou daquelas pessoas que não liga muito para aniversário. Pelo menos na última década não os comemorei. Talvez no próximo ano, se a pandemia deixar, o faça. Só porque estou sentindo falta de uma boa aglomeração. Mas o rito de passagem que eu realmente respeito são as formaturas. Pode ser um pensamento pragmático demais – ou capricorniano em excesso – mas entendo que, ao contrário do avanço da idade que vem sozinho e sem esforço, os diplomas e certificados demandam empenho. E quando nos formamos – aqui vale a formatura da pré-escola à pós-graduação, passando por todo tipo de qualificação existente – precisamos festejar a entrega do canudo. Adoro ir a formaturas e aplaudir formandos. Porque essa vitória é conquistada com muito suor.

Existem ritos que, por mais que eu não valorize pessoalmente, respeito a importância que outros lhe dão. Finados é o principal deles. Não vou ao cemitério levar flores aos que já se foram. E não é por falta de amor por ninguém já falecido. Ao contrário. Se houvesse possibilidade, voltaria no tempo para abraçar meu pai. Mas não é no cemitério e, principalmente, num dia do calendário que me ligo a ele. Às vezes converso com ele, perguntando qual caminho seguir. Tem vezes que ele vem me responder em sonhos. Mas, definitivamente, não é o Dia de Finados ou a minha ida ao cemitério que definirá a força da nossa relação.

Neste domingo nós também temos um rito de passagem. Só que este só se confirma com a chegada de 2021. Quando o TSE encerrar a apuração, prefeitos e vereadores eleitos estarão assinando o contrato de trabalho mais importante de suas vidas e colocando esperança por tempos melhores em cada um dos brasileiros. Em 1º de janeiro, eleitos e reeleitos formarão novas equipes do executivo e no legislativo. A troca por si só não apagará o rombo nas contas nem o déficit de investimentos, a falta de educação de qualidade ou as dificuldades da saúde pública. Mas ao agregar novas ideias e ânimo novo, quem sabe, possamos avançar. Este é o poder de um rito de passagem. Oferecer esperança e renovar as energias. Que venha 15 de novembro, que venha 1ª de janeiro. E que venham tempos melhores.

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