Como tudo neste País ultimamente, a volta às aulas presenciais nas universidades está embasada em decisões confusas e cheias de idas e vindas. Primeiro, seria em janeiro. Houve muita reclamação, sobretudo porque ao que tudo indica, nós ainda não teremos vacina nas próximas semanas. Com a “chiadeira”, o governo recuou e pairou um grande silêncio por alguns dias. Essa semana o ministro da Educação, Milton Ribeiro, voltou ao assunto, adiou o retorno, flexibilizou algumas questões, mas, manteve a polêmica. Agora é oficial, por portaria publicada no Diário Oficial da União: as aulas presenciais em universidades públicas e privadas devem ocorrer a partir de 1º de março de 2021.
A menos que tenhamos uma vacinação mais rápida do que o esperado, em março não teremos uma parcela considerável da população protegida. Talvez alguns sortudos, provavelmente restritos aos grupos prioritários, já estejam imunizados. Mas, a maior parte de nós ainda terá na máscara e no álcool gel as melhores armas contra o coronavírus. Diante disso, no que toca as universidades públicas, acredito que a portaria do senhor ministro da Educação só resultará em uma coisa: greve nas instituições de ensino superior. Já nas particulares acredito que o bom senso prevalecerá e, até por pressão dos alunos e suas famílias, o sistema online ou híbrido prevalecerá.
E por quê? Simplesmente porque o Ensino Superior foi o menos prejudicado. Eu compreendo a necessidade de discutirmos o retorno das aulas nas Séries Iniciais e Ensino Médio. Neste momento – de pico nos casos – sou contrária. Mas acredito que nestes níveis temos sim que discutir o tema e, assim que as coisas melhorem, voltar. Porque as crianças pequenas precisam mais da presença física do professor e da interação com os colegas para trocar conhecimento. E os adolescentes precisam daquele olhar de cobrança na sala de aula por não terem maturidade o bastante para se regrarem ao ensino em casa. E os pais, exceto raras exceções, não conseguiram suprir essas questões. É diferente de um adulto cursando graduação ou pós, que tem acesso à tecnologia e maturidade para otimizar seu tempo.
O que questiono aqui não é se há ou não condições de voltar ao presencial em março. Porque isso, acredito, nem eu nem o senhor Milton Ribeiro devemos dizer, mas sim os epidemiologistas. A questão é: precisa voltar num momento ainda tão incerto? Eu sou aluna da pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Não tive nenhuma aula presencial, mesmo tendo cursado três disciplinas, todas com muitas leituras, trabalhos e encontros para troca de ideias nos quais foram utilizadas Google Meet, Zoom Meetings e uma plataforma própria da Ufrgs. Ao final de cada disciplina professores e alunos faziam balanços do que foi necessário adaptar e os respectivos resultados. E, em geral, os balanços são extremamente positivos. A ponto de estudantes levantarem a bandeira de, quando a pandemia passar, seguir fazendo uma parte das aulas com a ajuda da tecnologia. O motivo? A aula online tem também suas vantagens.
É claro que eu queria ter tido aulas olho no olho. Mas as ferramentas digitais possibilitaram, por exemplo, que a disciplina contasse com alunos de Manaus, que agregaram muito às discussões. Outra questão importante num cenário onde os estudantes são também profissionais é a otimização do tempo. Quantas horas eu teria deixado nas idas e vindas de Montenegro a Porto Alegre para ter os mesmos debates que tive acessando a internet do conforto da minha casa? Isto sem entrar em custos com questões como combustível, pedágio e estacionamento em cada dia de aula. Se eu considerasse que aulas foram prejudicadas, isso tudo iria para segundo plano. Mas não foram. Os semestres tiveram um aproveitamento muito elevado sem que para isso os professores, funcionários e educadores tivessem de estar em risco. Porque deveria ser diferente em 2021?