Em 2017, eu tive uma oportunidade rara no Jornalismo. Infelizmente, a profissão costuma nos colocar diante de assuntos ruins, dolorosos, numa quantidade bem maior que os positivos. Mas, desta vez, o fato raro e por isso noticiável, era que Montenegro registrava dois nascimentos de trigêmeos. E, à época repórter responsável pelo caderno de Saúde do Ibiá, levei aos moradores do Vale do Caí a história dessas mamães – Rita e Priscila – que viviam a ansiedade pela chegada de seus trios.
Na faculdade de Jornalismo, a gente aprende que o certo é nos distanciarmos emocionalmente das pautas e também das fontes.
Faz todo o sentido, já que se trouxermos para a nossa vida todas os dramas e problemas que noticiamos, não manteremos a saúde mental em dia. Mas há momentos em que, sejam matérias positivas ou negativas, o repórter se envolve. Esse foi um caso.
Rita me permitiu acompanhar uma ultrassonografia das suas três meninas. A energia que surge naquele instante, numa tela formada de sombras e borrões (é o que um leigo vê) é algo mágico. E eu estava lá. Priscila abriu sua casa para que eu registrasse os preparativos. Era uma intrusa entre os três lindos berços enfileirados no quarto e muitos – muitos mesmo – brinquedos, roupas e pacotes de fraldas. Tudo pronto para a chegada de um menino e duas meninas. Sim, eu estava emocionalmente envolvida com as duas mães e os seis bebês. E no dia de cada um dos partos, um em março e outro em dezembro daquele ano, eu me vi nervosa, torcendo para que tudo ocorresse bem.
Nos últimos três anos, foram inúmeras as vezes em que eu disse na redação: um dia, temos de reunir estes dois trios! O tempo foi passando e, para a matéria especial deste Dia das Crianças, resolvemos tentar colocá-la em prática. A tarefa número 1 era ver se as mães aceitariam. E elas disseram sim, com todo o entusiasmo. Com alegria, conseguimos a confirmação de que a médica obstetra Alessandra Pölking, que trouxe os seis ao mundo, também viria. O encontro, inicialmente, seria na casa da outra editora do Ibiá, a Andressa Kaliberda. A gente imaginou eles correndo no gramado e estávamos empolgadas com o encontro e a reportagem. Mas então tivemos que cancelar porque a previsão do tempo era de chuva.
Remarcado, o tão esperado encontro aconteceria na Estação da Cultura – que tem uma parte coberta – no sábado passado, dia 3. Perfeito, certo? Mas chuva é pouco para descrever o tanto de água que veio do céu naquele dia. A cada trovoada, a enxurrada aumentava e o meu coração disparava. O que fazer? Era o último sábado antes da edição de Dia das Crianças. Se cancelássemos, tudo estava perdido. E tínhamos todos confirmados, um piquenique preparado, além de doces e balões para fazer a alegria da criançada. Arriscamos!
O resultado você vê na matéria publicada na edição de hoje. Mas adianto que esta turminha deixou uma lição em nós, envolvidas na pauta – Isadora Ferreira também estava por lá, garantindo lindas fotos. Quando os seis chegaram, mostraram de cara que desejavam explorar cada novidade. Chuva? Vento? Não viram. Interagiram entre si com a tranquilidade que as crianças têm para aproveitar o bom da vida, esquecendo o resto. Fizemos muitas lindas fotos… com pirulitos, com balões, bolhas de sabão, no piquenique e depois eles começaram a se dispersar, como é natural, e a perceber os brinquedos da Estação.
Molhados, é verdade. E, por isso, ignorados nos nossos planos. Mas as crianças nos mostraram que poça d’água é um atrativo e tanto. O João Pedro, filho da Priscila, mostrou toda sua elasticidade nas barras de apoio da rampa de acesso à Estação. E as meninas da Rita…elas nos deram uma grande lição: se a vida te oferecer uma tempestade, pisoteie nas poças e mostre pra elas quem manda! Brincadeira à parte, o encontro desta turminha nos mostra o poder transformador que há nas crianças. Fica aqui meu agradecimento para Rita, Priscila e Alessandra. Por toparem essa linda aventura. Feliz Dia das Crianças!