Sofrimento invisível

Parece absurdo que alguém possa sofrer num dia de céu azul, na beira do mar, numa festa, num bar. Parece exagero dizer que alguém que leve uma pancada na cabeça sofrerá menos do que alguém que for demitido. Onde está o hematoma causado pelo desemprego, onde está a cicatriz da fome, onde está o gesso imobilizando a dor de um preconceito? Custamos a respeitar as dores invisíveis, para as quais não existem prontos-socorros. Não adianta assoprar que não passa. Tenho um respeito tremendo por quem sofre em silêncio (Martha Medeiros).

150 milhões de pessoas sofrem de fibromialgia no mundo. Segundo o estudo ‘A prevalência da fibromialgia no Brasil’, estima-se que existam quatro milhões de pacientes. Destes, entre 75% e 90% dos afetados são mulheres. Entre os principais sintomas estão dores intensas e incapacitantes, sem causa aparente, e que frequentemente causam dificuldades na obtenção de um diagnóstico. Além disso, de acordo com a OMS, a doença acomete especialmente tendões e articulações, causa fadiga, distúrbios de sono e alterações de humor. De acordo com o médico e diretor associado global da Spectrum Therapeutics, Wellington Briques, por causa da pandemia da Covid-19, muitos pacientes, incluindo os que sofrem de dores crônicas, pararam de buscar ajuda médica (Fonte: Estadão).

Como profissional da saúde, sempre tive conhecimento a respeito da fibromialgia e suas complicações, mas não imaginava que em nossa cidade poderia existir tantas pessoas que sofrem desta moléstia. Conhecida como uma doença invisível, ela atinge partes macias do nosso corpo, sendo muito difícil o diagnóstico. Exames dificilmente detectam a doença, porque ela não deixa marcas e nem hematomas.
Alguns dias atrás fui procurada por algumas mulheres, que me questionaram se existia, em Montenegro, a carteirinha de identificação da pessoa com fibromialgia. Respondi a elas que acreditava que existia. Para minha surpresa, após questionar a secretaria da Saúde, descobri que realmente não possuímos no município esta carteira.

Pensando em dar dignidade a essas pessoas encaminhei no último dia 22 de Julho a indicação ao Executivo. Para que fosse realizado estudo de viabilidade de um projeto no âmbito do Município de Montenegro, a carteira de identificação da pessoa portadora de fibromialgia. A iniciativa visa atender a demanda de parte da população montenegrina que sofre diariamente desse mal.

Um exemplo de cidade que já possui a carteirinha é Porto Alegre, a qual determina que, para fins de usufruir das regras preferenciais, portadores de fibromialgia sejam consideradas como pessoas com deficiência. A FAMURS também apoia movimento da Anfibro para fomentar políticas públicas de conscientização da fibromialgia nos municípios gaúchos.

O governo do Estado através da Lei Daniel Lenz – Lei nº 15.606 de 29 de abril de 2021,institui a política estadual de proteção dos direitos da pessoa com fibromialgia. A legislação abrange tanto o tratamento da doença quanto a informação acerca de seus desafios para a sociedade, a capacitação do pessoal de saúde, bem como a inclusão do fibromiálgico no mercado de trabalho.

Para finalizar espero que o silêncio destas pessoas seja quebrado,que suas vozes sejam ouvidas e que seus pedidos finalmente atendidos.

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