O poder da interpretação

Essa semana, circulou na internet a imagem de um outdoor instalado em Curitiba, no Paraná, com os seguintes dizeres, em letras garrafais: “Pelo fim dos privilégios para deficientes”. A imagem gerou todo tipo de debate. Houve quem criticasse o governo (?), quem falasse mal do Paraná e até de toda a região Sul do Brasil, generalizando o preconceito existente em todo lugar. Houve – pasmem – quem levantasse a bandeira do fim dos “privilégios” para pessoas com deficiência, aproveitando o gancho da análise do Projeto de Lei 6.159/2019, que desobriga empresas de adotarem uma política de cotas para pessoas com deficiência ou reabilitadas.
O outdoor é de 2015. E era uma ação de marketing do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, vinculado à prefeitura daquela cidade. E daí? Daí que a ação gerou um primeiro impacto viral. As pessoas olharam a imagem e, sem terem conhecimento a respeito do que se tratava, destilaram as opiniões mais diversas, apenas pela impressão inicial. Essa era a intenção do outdoor. Afinal, se você é capaz de se indignar com uma frase dessas, também é capaz de replicar a defesa dos direitos dessa população.
O problema foi depois. Quando o fato foi esclarecido e uma sobreposição, explicando a campanha, foi colocada no outdoor. Nesse momento, percebeu-se a incapacidade de muitos em opinar sem ao menos saber do que se trata, realmente, o projeto. Os ataques continuaram e o ódio seguiu sendo destilado internet afora. Claramente pessoas que não tinham, sequer, aberto as notícias a respeito do assunto, nem sabiam que as mesmas eram de quatro anos atrás, seguiam comentando impropérios contra um estado todo, em função de uma atrocidade que julgavam ter sido feita por um grupo.
O fato é que essa atitude não é um fato isolado. Diariamente nos deparamos com situações em que grandes discussões ocorrem on e offline porque as pessoas simplesmente não lêem ou, quando o fazem, não param para interpretar o que viram e nem por isso deixam de destilar sua opinião à flor das próprias emoções. Interpretação é disciplina obrigatória desde o ensino fundamental e uma necessidade básica para a comunicação interpessoal. Onde foi que deixamos de priorizar o embasamento das opiniões antes de as divulgarmos? Precisamos, urgentemente, voltar a esse ponto e corrigi-lo.
Da falta de interpretação surgem brigas infundadas, estresses desnecessários e notícias falsas, que se propagam à velocidade da luz. Clicar no link e ler o texto pode demorar mais cinco minutinhos. Mas isso, certamente, evitará que passemos vergonha na internet e garantirá que tenhamos elementos para formar uma opinião com conhecimento do fato sobre o qual estamos dissertando. E isso, certamente no economizará muitas horas e uma grande quantidade de analgésicos.

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