De mãos dadas com a favela

Na segunda-feira, dia Sete de Setembro, a Cufa Montenegro completa 12 anos de fundação. Uma data muito significativa para quem tem como objetivo a inclusão social. Cultura, lazer, educação, esportes e até auxílio financeiro em momentos de crise são formas de incluir. Mas também – e principalmente – a organização popular oferece “independência e vida” àqueles que têm pouca, ou nenhuma, assistência das esferas do Poder Público. E por assistência estou falando do básico: ruas asfaltadas, saneamento básico, escolas bem estruturadas e segurança pública efetiva. Coisas que nos são, em geral, tão banais que nem imaginamos faltarem em vielas localizadas a poucos quilômetros das nossas casas.

São 12 anos dentro das comunidades, com uma proposta de gerar oportunidades e empoderamento dos moradores. Desse período, acompanho seu trabalho há quase cinco anos, logo depois de ter chegado à cidade. Foi em uma reportagem sobre violência doméstica, em 2015, quando a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher completou seu primeiro ano de atuação em Montenegro, que tive meu contato inicial com o trabalho da Central Única das Favelas.

Minha porta de entrada foi o núcleo Maria Maria. Uma reunião de mulheres, totalmente orgânica, espontânea e aberta a quem quisesse chegar. Ela ocorreu na Associação Comunitária da Vila Esperança. Na época, cheguei a ouvir que precisaria tomar cuidado, pois iria sozinha à vila. Contrariando todas as recomendações e receio criado pelo preconceito alheio, poucas vezes me senti tão segura e acolhida como naquela noite.

Mas não foi tão simples. Relatos de violência doméstica, de agressões físicas e psicológicas, além de situações realmente problemáticas foram um verdadeiro balde de água fria sobre a minha realidade tão privilegiada. Eu passei dias com aquela reunião na cabeça e, embora houvesse um pacto coletivo de sigilo sobre as histórias ali contadas – afinal, o objetivo era fazer as mulheres se sentirem acolhidas – eu precisava falar com alguém sobre.

Naquele momento, eu entendi que, mais do que cestas básicas ou vagas de emprego, as comunidades precisavam de visibilidade, fortalecimento emocional e de voz. E é isso que a Cufa oferece. Voz! É o som compassado do rap que ecoa pelas favelas e vai parar nas plataformas de streaming; o grito de independência daquela mulher que conseguiu se fortalecer e seguir sua vida; o barulho do apito da Taça das Favelas revelando grandes jogadores para o mundo…

Quem está na cidade há mais tempo lembra-se do movimento Montenegro Contra o Crack. Eu não cheguei a viver esse momento, mas já ouvi relatos sensacionais desse projeto, nascido nas comunidades e, principalmente, para elas. O programa foi criado num período em que cerca de 2% da população montenegrina era usuária da pedra. Dezenas de crianças e adolescentes estavam nas ruas e eram dependentes. Essas crianças foram recuperadas graças a um esforço coletivo de educação, de segurança e de empoderamento.

São ações voluntárias que têm um impacto social, político e até econômico gigantesco. Muitas vezes, na bolha em que vivemos, com emprego formal ou empresa própria, boa educação, qualidade de vida e oportunidades de lazer, sequer imaginamos a importância de fortalecer os mais vulneráveis. E isso é sim um ato político. Não partidário. Mas da essência da política, de viver em sociedade em prol da construção de um mundo melhor. Montenegro só tem a crescer com ações, programas e entidades como essa.
Vida longa à Cufa!

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