Você confiaria em um médico sem registro no CRM? Ou seria defendido por um advogado sem OAB? E deixaria um engenheiro sem inscrição no CREA construir sua casa? Se a resposta for não, imagine então ser informado por profissionais sem registro de jornalista. É um numerozinho bem pequno, mas que diz muita coisa: ele representa que aquele profissional está capacitado a exercer uma função muito específica, e está sujeito a regras e a um código de posturas inerentes à profissão.
A medida provisória do Governo Federal que cria o programa Verde Amarelo, embora tenha vantagens a quem está iniciando no mercado de trabalho, também acaba com a exigência de registro profissional de vários cargos, como jornalistas, publicitários, radialistas, químicos e arquivistas. Pode parecer pouco, mas a queda dessa obrigatoriedade coloca em cheque a credibilidade das informações consumidas por milhares de pessoas diariamente. E, com isso, o que também corre risco é a própria democracia.
Não, meus amigos. Não estou exagerando. Cabe aos jornalistas, enquanto profissionais da comunicação na busca por informações de qualidade e credibilidade, falar dos acertos e também dos erros de governantes, empresas e outros setores da sociedade. Mas isso é feito de acordo com um código de ética devidamente regulamentado e cujo não cumprimento é passível de punição. Sem que haja qualquer tipo de registro de categoria, na prática, o Estado permite que a profissão de jornalista passe a ser exercida por pessoas não-habilitadas, de maneira irresponsável.
Mas e como isso influencia na nossa vida? Sabe aquele tio que compartilha fotos de cadáveres nas redes sociais; ou aquela prima que manda fake news (notícias falsas) no grupo da família no WhatsApp? Pois é. Essas pessoas poderão exercer a função de jornalistas. E não haverá mais controle sobre o que é, de fato, informação real ou o que é invenção da cabeça de alguém. Sem contar que o desrespeito com a família daquela pessoa morta que foi exposta no Facebook não poderá ser punido, porque não haverá insumos legais para sanções, já que essa pessoa não está regulamentada como profissional da comunicação.
E não se engane. Essa medida não está atrelada à liberdade de expressão. O exercício do jornalismo como ofício regulamentado nunca cerceou a liberdade de qualquer pessoa se expressar; muito menos em uma sociedade democrática e conectada como é a que vivemos. Pelo contrário. Os jornalistas, enquanto produtores de informação, fornecem subsídios para que qualquer indivíduo possa se expressar livremente e com conhecimento dos assuntos sobre os quais deseja opinar, através das informações sob os mais diferentes ângulos.
Defender o jornalismo com credibilidade e profissionalismo é, também, defender o direito à informação imparcial e objetiva. Afinal, jornalismo é, também, publicar aquilo que alguém não quer que os outros saibam. E, se o objetivo é destruir o jornalismo, o que será que não poderia ser publicado?