Contrastes do Vale

Nós temos o privilégio de viver em um local belíssimo, cheio de paisagens naturalmente belas. Subindo o Vale, pelos locais onde o Rio Caí serpenteia imponente, é possível encontrar cenários de tirar o fôlego. Daqueles que você olha e precisa de alguns minutos para entender o que está diante dos teus olhos. Em alguns casos, no interior, a sensação é de estar em um filme, num daqueles lugares paradisíacos que só vemos nas telas do cinema ou da tevê. Realmente, são lugares paradisíacos que estão aqui, ao nosso alcance.

E a paisagem muda ao longo do rio, revelando novas belezas a cada trecho descoberto por quem se arrisca pelo Vale afora. É um deleite aos olhos atentos, sobretudo quando banhados pelo sol da manhã ou pelo entardecer alaranjado comum nessa época do ano. Há pássaros cantando, vento soprando e pedrinhas do fundo que ficam visíveis a quem dedicar alguns minutos ao leito do Caí.

Sim. Temos o privilégio, muitas vezes mal aproveitado, de viver em um lugar belíssimo, com vistas estonteantes que mudam a cada estação, revelando o quanto nossa natureza é plural e merece o respeito de ser bem cuidada. Mas não se engane! A beleza contrasta com a gravidade da situação a que estamos submetidos nos últimos seis meses, devido à estiagem que assola a região.

Vivemos a maior estiagem dos últimos 15 anos. Sim! Vivemos! Porque a chuva dos últimos dias, por mais que seja um alento, sobretudo aos produtores rurais, ainda é pouca para suprir a necessidade de água por todo o Vale do Caí, quiçá em todo o Rio Grande do Sul ou mesmo na Região Sul do Brasil.

A seca castiga plantações, esvazia poços e açudes, mata animais habituados às cheias desse nosso Caí, e torna marrom e mórbida a paisagem antes tão verde e cheia de vida das nossas várzeas. Já perdemos frutas, flores, hortaliças e até árvores inteiras. Já perdemos peixes, crustáceos, algas e até seres que nem imaginávamos existir pela extensão do Rio. Isso não pode ser minimizado. Não podemos achar que um problema que dura quase seis meses se resolverá em dois ou três dias de chuva.

Saudemos os produtores rurais, estes verdadeiros heróis que, mesmo na incerteza de colher suas produções, cuidam com tanto carinho das plantas, desde a semente até os frutos. Eles, que garantem nosso alimento, e agora vêem com olhos marejados e o coração repleto de dor suas plantas secarem. Percebem seu próprio sustento incerto diante das adversidades vividas. Os frutos podem não estar tão vistosos como estamos habituados, mas cada um tem um pouquinho do carinho e o suor de quem está fazendo de tudo para garantir que não falte alimento à mesa dos gaúchos. Mesmo que a água esteja escassa e eles dependam da sorte de novos poços ou de caminhões-pipa enquanto a chuva não se normaliza.

E esse não é um problema somente de agricultores familiares, pecuaristas, das agroindústrias, e uma responsabilidade ao Poder Público. É de todos nós! Somos milhares utilizando o recurso tão precioso que cada vez mais escasseia ante à ausência de chuva em grande volume. Portanto, mesmo com esse alívio das recentes precipitações, devemos botar a mão na consciência e usar aquelas velhas máximas do coletivo: poupar e reutilizar água. Podemos aproveitar a chuva e o descarte da máquina de lavar, por exemplo. A natureza já não consegue se renovar tão rapidamente, e um dia todos iremos colapsar.

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