Essa semana, ouvindo um cântico antigo, sinistro e meditativo, recordei-me de algumas lições que a vida já me deu e que, por algum motivo, eu havia esquecido. Quando eu tinha meus 12 anos, descobri a biblioteca pública e lá cresci até os 18, estudando psicologia, psicologia experimental, parapsicologia, ciências ocultas e todo o tipo de coisas religiosas e místicas que você, leitor, pode imaginar.
Ler essas centenas de livros enquanto ainda era adolescente moldou muito a forma como vejo o mundo hoje e me abriu a mente para horizontes infinitos. Ela jamais seria fechada por dogmas novamente, porque eu entendi que ela não tinha limites e que a realidade é tão complexa, tão mutável, que nada nem ninguém podem defini-la. Você pode escolher um caminho, uma crença, mas precisa estar pronto para renová-la, mudá-la ou mesmo descartá-la através de novos aprendizados. A crença cega não gera frutos. A ignorância não é uma bênção, muito pelo contrário.
“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Essa frase de Jesus pode ser interpretada de diversos modos, depende do prisma pelo qual se olha, qual a base da criação e a limitação de seu entendimento. Eu me sinto muito privilegiado mesmo por ter podido estudar tudo aquilo na adolescência, o que me permite hoje interpretar essa frase de uma forma mais ampla, mais profunda, por assim dizer.
Ter a verdadeira liberdade de pensar só é realmente possível através do conhecimento, principalmente do autoconhecimento, que só vem através da reflexão, da meditação sobre si mesmo e sobre o mundo no qual está inserido. A completa compreensão das coisas é algo impossível de atingir, porém deve ser sempre o objetivo final de cada ser humano. Pois quanto mais próximo você estiver desse ponto ômega, mais profundamente conectado com a vida, a realidade e a sua própria existência estará. E o efeito que isso terá em você é sublime. Realmente libertador. Só quem cultiva (e cultivar é a palavra de ordem aqui) esse estado é quem verdadeiramente poderá evoluir para outro nível de ser humano: o de ser humano, no sentido real do termo. Uno com a natureza, com as outras pessoas e com a própria vida.
Não é uma caminhada fácil, nem simples. Navegar controladamente nesse fluxo caótico do qual vertem nossos pensamentos é muito trabalhoso e, por isso mesmo, a maioria nem sequer tenta. Essa maioria vive como figurante. Sua existência é frívola, sem sentido, vazia e, quando passa, isto é, morre, é esquecida. Infelizmente são poucos os que se dedicam a entender o que é a vida, o que é estar vivo. São poucos que refletem o que estão fazendo aqui. E refletir não é só questionar um pouco ou pensar no assunto de forma superficial, mas meditar profundamente sobre sua própria existência. Essa é a única forma de entendermos o quão importante é a vida e que tudo está profundamente conectado, dividindo uma mesma força que nasceu há bilhões de anos no coração de uma única estrela.
Perceber, respeitar e amar essa unidade suprema, que só é visível graças ao vibrar das cordas primordiais, das quais somos nós e todas as coisas apenas um breve tom, é o que realmente significa ser humano.