Enquanto eu cursava minha graduação da Universidade, tive o privilégio de ter aula com um doutor em Filosofia, o qual ministrou para nós a cadeira de Ética. A única cadeira que servia, não somente para a nossa área profissional, mas para a vida como um todo. Posso dizer que foi um divisor de águas. A reflexão na qual ele nos colocava todas as semanas me fez crescer muito durante aquele tempo. Porém, o conceito que mais me marcou e o qual eu absorvi e implementei melhor na minha vida é o de justiça. Não a justiça humana, ditada por leis, decretos e afins; não. A justiça universal, independente de ser humano. A justiça do propósito, do Telos.
Telos é o propósito de algo, é o motivo de sua existência. Um violino comum foi feito para a música, logo é justo que seja tocado e não que fique exposto como uma obra de arte. A reflexão do que é a justiça universal ou natural é o que deveria mover a humanidade. A busca por essa justiça liberta o ser humano de conceitos sociais, tribais, subjetivos, vis. A busca pela justiça universal, que transcende os defeitos humanos, permite que seu buscador compreenda a vida como ela realmente é e se torne, de fato, justo.
Justiça é equilíbrio, é estar no centro onde se pode ver o todo, sem pender para nenhum lado. É a balança, muito bem representada pelo símbolo da justiça, mas totalmente corrompida pelo ser humano. A justiça humana é suja, dependente, parcial. É nada mais que uma sombra na lama da verdadeira justiça. Esta, superior, está além de qualquer concepção humana e só podemos nos aproximar dela. Mas tentamos? Você tenta? Acho difícil. Não que você seja uma má pessoa, mas buscar a justiça superior é uma ação diária, consciente, reflexiva e não são todos que pensam nessa possibilidade.
E, de fato, é um conceito difícil de absorver, de internalizar. E, internalizar, é a parte mais necessária da aplicação dessa justiça. E o impacto social é maior ainda, pois muitas vezes isso fará de você o “advogado do diabo”, quando a justiça superior mostra que a justiça humana está errada, pois, para o ser humano, a sua justiça é a correta. Porém, com a reflexão, o ser humano chega, por fim, no único entendimento de que, para aplicar a justiça mais elevada, para a execução correta do Telos, ele vai, indubitavelmente, se valer da equidade, pois a justiça pura é a equidade.
A busca por essa justiça pura, elevada, universal deveria ser ensinada desde o início da vida em casa e nas escolas. Um ser humano justo é um ser humano bom. E a aplicação da verdadeira justiça traz harmonia e paz. A reflexão do que é verdadeiramente justo precisa ser o cerne da vida de todo o ser humano. E não é uma reflexão fácil de engolir.
Faça o que é justo; não o que lhe faz particularmente feliz. Felicidade particular é subjetiva e parcial e pode ser a causa do sofrimento de outro. Busque a verdadeira justiça, a equidade, então todos serão realmente felizes.