É verdade quando é dito que o sábio não faz nada de errado; porque, de fato, ele não faz nada. E ele também não tem todas as respostas, porque, de fato, ele não tem mais nenhuma pergunta. Toda ação própria é egoísta. Não há nada que possamos decidir fazer que não seja um ato do ego; Pois tudo o que pensamos, todas as nossas ideias são individuais. Sempre que manifestamos um pensamento, ele é limitado, preso à separatividade que, claro, é apenas uma ilusão. Cecília Meireles, em seus Cânticos, dá-nos uma frase que tem um sentido tão profundo que poucos conseguem aproveitar. Ela diz: “sempre que diz ‘isto é meu’, rouba-te a ti mesmo”.
É difícil conceber essa unidade, pois tudo o que pensamos é limitado pela nossa mente. Somos incapazes de idealizar algo ilimitado. Nós vivemos presos à dualidade. Sempre que pensamos em algo, geramos sua contraparte, seu oposto. Você só pode perceber algo através do seu oposto. O frio só é entendido por causa do calor. O alto só existe porque existe o baixo. O belo só é perceptível por causa do feio. Sempre que damos um adjetivo a algo, polarizamos. Todavia toda essa dualidade, percebida pela mente, é uma ilusão. No fim do dia só há uma coisa: a manifestação.
Santo Agostinho já dizia: “O que é seu não pode ser tirado de você. As coisas que vêm e vão, nunca foram suas”. Todas as coisas materiais são destinadas a desaparecerem. O que realmente vale em algo, não é sua matéria, mas seu valor, seu propósito. Não são as paredes de uma casa que lhe dão valor, mas seu vazio interior, onde alguém morará. Não são os eletrônicos de um telefone que lhe dão valor, mas as informações que são adquiridas com ele, ou as emoções que são compartilhadas através dele. Tira-se esses pontos, o aparelho e a casa não têm utilidade, isto é, não têm valor em si só por existirem. É o propósito que lhes vivifica. E esse propósito é intangível. Não é material.
Lembre-se: nada do que é realmente seu pode ser tirado de você. O que pode ser tirado de você, nunca foi seu. Desenvolver consciência disso liberta sua mente de ser um joguete dessa ilusão de individualidade. Pois, se você anda apegado às coisas materiais, isto é, à ilusão, quando confrontado com a unidade, a realidade última, vai sofrer muito, porque tudo aquilo com o que se identifica será dissolvido, porque não era real. Por isso é mister usar as coisas do mundo, mas não deixar ser usado por elas. Saber a ordem das coisas dá domínio, não só sobre si mesmo, mas sobre todo o resto.
Mantenha em mente que tudo aquilo que você pode obter, você vai perder. Dispa-se de tudo o que não é humano e verá que o que fica é o que é realmente eterno, imutável e real; pois aquilo que vem e vai é só aparência. Ilusão. Para ver a realidade basta perceber a inexistência das partes. Somos uma unidade e toda essa separatividade é uma ilusão criada em nossa mente dual, que levanta paredes e compartimenta a existência.
Por isso, lembre-se: na busca do conhecimento, todos os dias algo é aprendido, mas na busca da sabedoria, todos os dias algo é deixado para trás. Liberte-se da limitação e veja no próximo e na vida a extensão de si mesmo. E saiba que, sempre que alguém cai, parte de você cai junto com ela. E quando alguém se levanta, parte de você se levanta com ela.