Uma receitinha de felicidade

O que é o que é que, quanto mais se tira, maior fica? Ora, uma resposta simplista diria rapidamente: o Buraco! Porém, com uma reflexão mais aprofundada, diria: o Ser Humano! O que, para muitos, seria uma resposta sem pé, nem cabeça.

O filósofo chinês Laozi, um dos maiores disseminadores do Daoísmo (ou Taoísmo), dizia que: “na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido, e na busca do Dao, todos os dias algo é deixado para trás”. O mesmo era reforçado por outro filósofo chinês chamado Wu Hsin que, muito próximo às ideias de Laozi, dizia: “ver a utilidade em tudo é conhecimento. Ver a inutilidade em tudo é sabedoria”.

É claro que eles não estavam dizendo que o mundo é inútil, que a inteligência é inútil. Mas que, ainda que devêssemos trabalhar como os ambiciosos, não deveríamos nos apegar ao fruto. Pois, uma vez feita a obra, o correto seria se afastar e deixá-la existir e cumprir seu sentido de existência no mundo. Pois ela era, então, externa a quem a criou e, sendo parte do mundo, pertencia aquele que fez o mundo. Afinal, todo os objetivos materiais estão fadados a desaparecerem. O mundo é inconstante e impermanente. Assim, deixando a obra seguir seu curso, ela cumpre seu papel no universo e todos saem ganhando.

Platão dizia: “Se cada coisa estiver no seu lugar, não há como existir maldade no Universo”, e com isso ele quer dizer que se cada ser humano, e cada obra sua e da natureza, cumprirem seus papeis de forma plena, com o sentido que lhes é dado desde o nascimento, todo o mundo deveria funcionar em harmonia e perfeição.

O ser humano possui uma tendência, de sua parte mais animal, de se apegar, de dominar, de possuir as coisas, ou até mesmo pessoas. Esse apego a algo tão passageiro, não pode fazer nada se não causar uma eterna sensação de iminente perda. Um medo irracional de que algo pode lhe ser tirado a qualquer momento e, por temer sofrer com a perda, já sofre por antecedência. Mesmo que inconscientemente.

Cecília Meirelles, em seus Cânticos diz uma frase magnífica: “Sempre que diz: isto é meu, rouba-te a ti mesmo”. Pois é deixando a vida seguir seu curso, e todas as coisas ocuparem seus próprios lugares de sentido, é que se pode realmente ser feliz. Pois já dizia Santo Agostinho: “O que é seu, você não pode perder, não pode ser tirado de você. As coisas que vêm e vão, nunca foram suas”. Afinal domina-se verdadeiramente o mundo, deixando as coisas seguirem seu curso, não interferindo.

Afinal, é fato que o ser humano só se torna realmente feliz exercendo sua condição humana. Cumprindo efetivamente seu papel, fazendo o bem, cultivando valores, virtudes e buscando sabedoria. Somente dessa forma se realiza o ser humano.
Por isso comece a ver a vida com novos olhos: Olhos de quem está aproveitando férias no mundo, aprendendo com ele, mas que, no fim, vai embora sem levar nada consigo. Por isso dê valor a tudo o que tem, ao que vive, mas não se apegue. Liberte tudo, para ser livre também.

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