Sobre pais e filhos…

Fim de semana passado foi dia dos pais. E, talvez pela primeira vez, eu postei uma foto do meu pai em uma rede social. Muitas pessoas não o conheciam, visto que ele partiu ainda em 1997, há mais de vinte anos.

Meu pai era um cara fenomenal, de inteligência ímpar, mas com seus problemas, seus demônios pessoais, por assim dizer. Entre os rádios PX ele era muito conhecido: o famoso PX3B-8037. Querido por todos eles, gastava um bom tempo entre o rádio PX e seus trabalhos de eletrônica. Era um cara realmente sem precedentes.

Desde cedo ele estudou medicina, e teria sido um exímio médico, se seu temperamento fosse mais ameno na juventude e não tivesse sido expulso do curso que pagava com o próprio suor, como motorista de ônibus. Mas a vida tem dessas.

Apaixonado por filosofia, estudou hermetismo com Rosacruzes e era amante das ciências ocultas. E, foi dele que eu, claro, herdei essa mesma paixão. E, ainda que estudasse tudo isso, era muito religioso. Mas não daqueles que seguem dogmas cegamente, não. Ele era também um estudioso, cheio de perguntas e que, acima de tudo, buscava respostas. E, foi dele também que herdei essa minha curiosidade e essa minha aversão por dogmas sem sentido, sem motivo, sem explicação.

Meu pai, o velho seu Antonio, que muito viveu por Montenegro, foi um cara que nos deixou num dia chuvoso de manhã cedo, enquanto eu estava na sexta série, tendo aula de português com a professora Lara, no Polivalente. Jamais vou esquecer esse dia, quando minha mãe apareceu na porta da sala de aula, vindo me buscar.

Nesse mesmo dia, ainda que eu entendesse que meu pai havia nos deixado, eu peguei a bicicleta e saí. Fui para a casa de um amigo que tinha faltado aula naquele dia. E lá, com ele e sua mãe, tomei café, assisti o filme recém lançado “A Experiência” e, depois, joguei o vídeo-game: Streets of Rage, do Mega Drive. Essa era a forma que eu havia encontrado para lidar, naquele momento, a perda do meu pai, que era, para mim, meu herói.

Uma semana antes de partir, ele me chamou para uma conversa. Ele estava muito debilitado e provavelmente sabia que logo nos deixaria; afinal ele já havia tido um infarto algumas semanas antes e, por sorte, ou milagre, resistiu mais um tempo para se despedir. Talvez não apenas para se despedir, mas também para ter aquela conversa comigo. E, ali, ele me inspirou a buscar o caminho em que me encontro hoje, estudando filosofia, ciências ocultas, religião e, acima disso tudo, buscando fazer minha parte pela humanidade. Talvez fosse tudo isso que ele quisesse fazer e, de certa forma, deixou de fazer, ou talvez não conseguiu como queria. Mas sei que partiu em paz. E, sei que, onde quer que esteja, está extremamente orgulhoso de todos nós, seus filhos e filhas.

Por isso deixo aqui minha eterna gratidão e homenagem ao homem que deixou em mim a marca da filosofia. Meu pai, o operador PX3B-8037, Antonio. Que o Eterno o tenha.

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