Na época em que estamos, o conceito de Deus já está brutalmente deturpado, distorcido e banalizado. Qualquer coisa pode ser deus: uma árvore, uma pedrinha, você e eu, qualquer coisa pode ser adorada e cultuada como deus. Estamos na época da liberdade de pensamento e isso também significa liberdade de crença. E é nessa liberdade de crença que muitos se perdem, pois podendo ter qualquer coisa como deus, acabam deixando a experiência espiritual genuína para trás, para longe de si. A liberdade é boa, mas precisa ser bem empregada.
E aqui não me refiro somente ao Deus das religiões abraâmicas, como Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Mas também às diversas religiões que possuem séculos de estudo, reflexão e introspecção, na busca do contato real com a Luz divina. Porque hoje é muito fácil uma pessoa que jamais creu em nada, passar a cultuar (de forma vazia, claro) um objeto de uma religião da qual nunca soube nada, apenas por ser legal. Um exemplo seria eu, que não sou um grego clássico, começar amanhã a cultuar Athena, só porque é chique, diferente e legal. Isso não é espiritualidade, isso não é nada. É um vazio tremendo.
A genuína experiência espiritual nasce na fé, do latim fide e do grego pistia. Sendo que a primeira tem o sentido de confiar em algo e a segunda, de crer em algo. Mas ambas as palavras não exprimem o conceito de fé na raiz hebraica: emunah, que tem o sentido de “ser confiável”. Ora, se você acredita em algo só porque é legal, não é confiável para com essa religião, portanto não tem fé, no sentido real da palavra. Ou seja, convencer a si mesmo de que algo é legal e cultuá-lo, não é o mesmo do que começar a cultuá-lo porque tem fé para com aquilo.
Nesse sentido, são muito claros os motivos que levam a tanto vazio espiritual que vemos nas pessoas de hoje, tendo que se agarrar em tudo o que veem, porque nada as satisfaz por muito tempo. Tamanha é a liberdade de crença na atualidade que o que mais existe por aí é religião anímica, que cultua aspectos baixos da vida, entorpecem a mente, e estão longe de um contato espiritual genuíno. Pois, para quem não conhece a palavra, anímico vem de anima, alma. E, por mais que de uma forma coloquial, alma quase trabalhe como sinônimo de espírito, ela não o é. A alma é a parte mais baixa do conjunto que forma o ser humano. É a mente animal. E, por isso, sempre que você se envolve com o culto aos aspectos da alma, você está fortalecendo a barreira que lhe separa do contato com o Espírito.
É somente aprendendo a entrar em comunhão com o espírito, que está além da alma, que poderemos vislumbrar os aspectos acessíveis de Deus, aqueles que são compreensíveis para a mente limitada da qual somos parte. É somente por um caminho árduo de doma da mente animal que poderemos realmente conhecer a Deus, a ouvi-lO e comungar com Ele. Estar no estado que os Cristãos chamam de Graça; ainda que o real processo passe longe do que vemos na maioria das igrejas por aí.
Por isso não caia no conto do “acredite no que quiser”, porque você vai acabar iludido e, no mundo espiritual, esse erro é perigoso demais. Então estude, duvide, reflita, cresça e evolua.