Existe um conceito muito claro na humanidade, que é o de classificação. Gostamos de classificar. E isso é útil para nosso desenvolvimento como espécie. Classificamos o perigo, as vantagens e as desvantagens, níveis de segurança, boas e más companhias e, muitas vezes, fazemos um bom trabalho. Porém, dentro desse mesmo conceito, quando vamos nos distanciando da racionalidade e generalizando, acabamos reduzindo tudo para dentro daquele conceito, que é tomado de forma muito rasa.
Existe um princípio, sobre qual não vou entrar em detalhes, mas que se resume em uma síntese simples: nada é absoluto. Tudo tem seu oposto. O frio e o quente são apenas percepções de uma mesma escala de temperatura. O que é frio para um, pode ser quente para outro. São percepções subjetivas. Em Cuiabá, no Mato Grosso, cidade que visitei há poucos meses, por exemplo, um dia de temperatura de 15 graus é considerado frio, enquanto para nós, aqui no sul, é um dia fresco. O mesmo se aplica à vida. Nada realmente é absoluto.
Quando vemos uma pessoa praticar uma ação ruim, tendemos a classificá-la como uma pessoa má, ou mesmo de baixa intelectualidade, porém, esquecemos que tudo tem seu par de opostos. Essa pessoa não é absolutamente má, nem absolutamente ignorante. Em matérias onde nós tendemos a ser ruins, ela pode ser muito boa.
Então, o que fazer? Ora, escolher qual porção será enfatizada de uma pessoa é uma escolha pessoal e íntima. Se você decidir perceber somente a parte que considera ruim, verá sempre essa parte na pessoa. Porém, se buscar, se procurar, descobrirá que ela é um ser muito complexo e repleto de facetas diferentes. Dentre essas facetas, muitas são boas, de alguma forma.
Mesmo um criminoso? Pois bem. Ele é um criminoso ou cometeu um crime? Parece uma pergunta simples, mas não é. Nós, enquanto seres humanos, nunca “somos”. Nós sempre “estamos”. Tudo é temporário, efêmero, passageiro. A pessoa que cometeu um crime fez uma ação e é natural que colha a sua reação equivalente. Existe um fluxo, outro princípio, que não permitirá que ela escape do efeito da causa que criou. Ela pagará de uma forma ou outra, pois a compensação é inescapável.
Nós não precisamos ser os carrascos, nem os santos. Mas precisamos sim ver o equilíbrio e buscar procurar enxergar o todo, antes dos detalhes. Ser um ser humano não é simples e raso como tendemos a enxergar. É uma aventura muito mais emocionante do que podemos imaginar. E não é uma aventura fácil, mas vale a pena.
Lembre-se de sempre se dar ao trabalho de ver o outro lado. Imagine que sempre há outro lado e contraste. É do contraste que vem a consciência. A sabedoria nasce dessa consciência que só vem contrastando opostos. Jamais saberíamos o que é o frio se não existisse o quente, nem o som, se não existisse o silêncio. Tudo precisa existir com seus opostos para que possamos ter consciências da vida e das coisas. Veja tudo pelos dois lados, sempre.