Eu, desde muito cedo, decidi que dedicaria grande parte particular, interna, da minha vida, ao estudo das ciências ocultas. Ora, as ciências naturais já me eram ensinadas na escola e pouco ou nada me chegava das ciência ocultas. Tudo o que eu tinha de contato com o tema provinha de livros que lia na biblioteca pública, de filmes que assistia, e dos questionamentos nas rasas aulas de religião da escola.
Quando somos pequenos, aprendemos a questionar com a ciência, e a não questionar com a religião. Porém, fato é que, não questionar é um problema. Deve-se sempre questionar, é a única forma de se obter resposta. Porém, lembre-se de que questionar não é só duvidar. Questionar é buscar a resposta até se ter clareza de algo. Uma vez obtida essa clareza, não se faz mais necessário questionar, uma vez que seria tolice, pois não há mais a dúvida. Já o contrário, isto é, duvidar sempre, é, no mínimo, idiotice; e é o que leva a crenças infundadas como a “terra plana”, por exemplo, já que temos respostas suficientes para sanar essa dúvida.
Todavia o mundo das ciências ocultas, do ocultismo, não é simples de se clarificar. E é por isso mesmo que se chama “ocultismo”. Ele trabalha com conceitos ainda não compreendidos à luz da razão, porque não são mensuráveis; Pois se fossem, estariam dentro das ciências naturais, e não é caso.
A religião, a magia, a simpatia, a feitiçaria e quaisquer outras áreas do mesmo tipo estão dentro do ocultismo, ainda que as religiões tentem se desassociar do termo. Todos buscam contato, interação e descobertas desse mundo sutil, oculto, que está além dos sentidos humanos. Você pode orar pedindo a Deus para que Ele lhe dê uma nota de cem reais, ou pode desenhar um círculo mágico e conjurar uma entidade que lhe dê essa mesma nota de cem reais. Qual a diferença? O religioso dirá que a magia é coisa do diabo. O mago dirá que a religião é coisa do ignorante. Hoje vejo que ambos estão errados, pois a única diferença entre uma e outra é o sentido que damos a elas. O motivo de suas súplicas.
Um religioso que ora pedindo cem mil reais para comprar um carro novo, está mais próximo do diabo do que o mago que conjura um círculo mágico para que, com aqueles cem mil reais, possa alimentar famílias famintas. Não é o processo, mas o sentido dele é que lhe molda. O processo em si é só uma ferramenta, pois um mesmo mago que conjura uma magia que lhe dê cem mil para gastar em um carro luxuoso, é um ignorante de tamanho ímpar próximo ao religioso que ora pedindo o mesmo dinheiro para ajudar os pobres. Um sabe que está exaltando sua alma ao fazer o bem, o outro não faz ideia do mal que está causando a si mesmo, limitando-se a prazeres puramente mundanos.
O conhecimento e o estudo dedicado ao ocultismo, através do questionamento, reflexão e experimentação, levou-me a ver o mundo sob uma ótica muito particular e livre dos dogmas enraizados nas nossas culturas. Dedicar-se a algo até transcender as limitações locais, temporais e culturais, é o que transforma a vida verdadeiramente. É o que abre os olhos para uma realidade que sempre esteve lá, mas velada sob a forte escuridão da ignorância. Libertar-se dessas amarras é poder dizer, finalmente, que se é, mais do que religioso, espiritualizado.