Quantas flores são mortas pelo medíocre?

Ontem eu tirei umas das fotos mais lindas de uma flor lilás no meu pátio, em meio ao meu gramado. Entretanto, aquela flor vai desaparecer no fim de semana, no momento em que eu cortar a grama. Por quê? Porque alguém decidiu em algum momento da história humana que ela é só um mato. E eu me pergunto, como uma flor linda daquelas foi reduzida a mato? Quem detém tamanho poder de ordená-la uma praga e torná-la dispensável, enquanto outras plantas, nem tão bonitas, são tratadas e cuidadas, porque são “folhagens” ou “flores”?

Parece bobo, mas é discriminação. Aquela planta é uma flor, como qualquer outra. É linda, de cor brilhante e cheirosa, mas alguém, por não gostar dela, fez dela um inço e se normatizou isso: é mato. E o mesmo ocorre com as pessoas.

Esses tempos ouvi de alguém que ela achava errado “ser gay”. E agora, em clima de copa, sabemos que no Catar, é “proibido ser gay”. Ora, eu tenho sobrinhas que eu amo, que são lgbt, tenho amigos lgbt também, e quando ouço isso, eu fico com pena da ignorância que ainda está enraizada na cabeça de alguns. Dizer que acha errado ser gay, é o mesmo que dizer a um preto que “acha errado ele ser negro” ou a um indígena que é “errado ser indígena”. Ou pior, proibir ser preto, ou proibir ser indígena. Não faz nenhum sentido! Aquilo é um aspecto genético, faz parte da biologia do ser humano. É o que torna a vida tão linda, suas variações de cores, de culturas, de saberes. Igual aquela flor que virou mato porque alguém decidiu por ela, sendo que sua genética produz uma flor perfumada como todas as outras.

Algumas pessoas ainda não conseguem se desfazer da ignorância medíocre de achar que o gay foi induzido pelos amigos a virar gay que é desvio de conduta. Não entendem que é um aspecto do próprio ser humano, da própria espécie. O LGBTQIA+ nasce LGBTQIA+, seja qual for o gênero dentro do espectro. É genético! E o inverso é mais verdade ainda; então, senhores pais, não tenham medo de seus filhos virarem gays e lésbicas, porque se eles não forem LGBTQIA+, não vão ser. E se forem, não há nada no mundo que vocês possam fazer para mudar isso, além de criar trauma, dor e sofrimento para eles. Mas, agora, se querem causar dor aos filhos de vocês, ai é da sua própria índole e o problema, já entenderam, está em vocês, não nos filhos. Aliás, nunca esteve nos filhos, nem nos amigos LGBT deles.

Minhas sobrinhas deram sorte (e foi sorte mesmo, em vista da sociedade preconceituosa e defeituosa que temos) de nascerem ou estarem em uma família como a nossa, repleta de suporte, amor, atenção e apoio. Mas diferente delas, a maioria não encontra esse suporte na própria família e isso é uma das coisas mais tristes do mundo. E se não encontra na família, que dirá na sociedade, no trabalho, no convívio com os outros. Por isso não seja a pessoa que chama flor de mato e a decepa, seja a que reconhece a flor no que um ignorante um chamou de mato.

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