Já dizia um antigo texto, de um livro esquecido em uma prateleira empoeirada na estante de um antiquário onírico, que as religiões são tentativas humanas de entender os pequenos fragmentos que percebemos da Verdade Última. São criações mundanas construídas ao longo da história, erigidas ao redor desses fragmentos tênues, vistos através do prisma temporal, espacial e cultural daquele dado povo. Elas se elevam como muros de pedras imóveis, repletas de dogmas e ritualísticas que escondem o verdadeiro brilho daquele fragmento da Verdade Última, que nada possuía dessas coisas adicionadas posteriormente.
Sendo assim, só é possível vislumbrar esses pequenos fragmentos, se removermos tudo o que é humano, tudo o que é mundano e derrubarmos essas paredes sólidas de distorções, distrações e invenções culturais atribuídas a um só povo. E, dessa forma, vendo esses pequenos relances da Verdade Última, tal como um mosaico, poderemos juntar esses fragmentos para tentar, ainda de forma limitada, entender esse conhecimento imemorial como um todo, em sua pureza e estados originais.
Um grande amigo me disse uma vez: “Dentre todas as religiões, obrigatoriamente uma deve estar certa, será que é a nossa? Ou a dos polinésios?”, fazendo menção a um vídeo de comédia do canal Porta dos Fundos. Eu vou além e digo que não há sequer uma certa, porque todas são feitas desses mesmos muros idealizados pela mente humana presas à cultura, tempo e espaço de um povo específico. Mas que todas trazem, dentro de si, alguma fagulha daquela Verdade Última e cabe a nós, enquanto buscadores da verdade, derrubar essas muralhas, para percebermos essa luz através de seus escombros.
A única coisa que é uma só é a verdade e, dentre tantas distorções dessa palavra e tantos modismos e pensamentos “modernos” de “múltiplas verdades dependendo do ponto de vista”, faz-se necessário então chamá-la de Verdade Última, independente de mente e concepções humanas. Essa Verdade Última é o que é, você existindo para percebê-la ou não.
E aquele mesmo livro onírico citado no início desse texto traz esse vislumbre dessa Verdade Última, fora de conceitos temporais, espaciais ou culturais, derrubando esses muros mundanos e vendo diretamente aqueles fragmentos de luz, encaixando-os num único e grande mosaico que, mesmo imperfeito, mostra-nos os aspectos fundamentais da existência, que é Deus propriamente dito, e de sua manifestação na criação de tudo o que podemos perceber como realidade, como vida e como Universo.
E, uma vez vislumbrando esses relances da Verdade Última, ficam claros os aspectos de todas as religiões humanas e como eles se tornaram vagarosamente o que hoje são, pois ficam evidentes, dentro desses constructos mundanos que chamamos de religião, as pequenas faíscas dessa Verdade, que ainda repousam puras, esperando que suas paredes sejam finalmente derrubadas e possam derramar a Verdadeira Luz sobre seus adeptos.
Portanto, é imperativo ao ser humano utilizar-se de todo o seu poder de reflexão, de expansão da consciência, de superação, para transpor esses muros de uma vez, e buscar, sedento, pela Verdade Última; pois é somente através de seu entendimento visceral que nos é dada a pequena chance de uma vida eterna em Deus.