Peregrinos

Certa vez um mestre caminhava com seus dois discípulos em peregrinação à uma terra santa, onde havia um conhecido templo. No local dizia-se que era possível avançar na espiritualidade apenas por contemplá-lo. O mestre, que já havia visitado o local, guiava seus pupilos pela primeira vez, mostrando-lhes as belezas do caminho.

Em dado momento, em uma breve parada para almoçar, o mestre percebeu que seus discípulos discutiam em um canto, apontando dedos e xingando. Ele, então, aproximou-se dos dois e perguntou o que estava acontecendo. O primeiro discípulo, acusando o outro de ter ofendido sua fé, queria que ele se retratasse e aceitasse a sua visão. O segundo, insistindo que não o havia ofendido, defendia sua posição de discordar da crença do primeiro.

O mestre, sábio, perguntou aos dois se eles já haviam visto a crença um do outro pela perspectiva do colega, e se a sua visão era tão absoluta ao ponto de não terem mais nada a aprender. O mestre concluiu então que, se o conhecimento de ambos era tão completo assim, não necessitavam de nenhum mestre para guiá-los até a terra santa; e, não tendo mais nada a aprender, deveriam voltar para suas casas.

Assim, durante aquela tarde, os discípulos ficaram de cara fechada um para o outro, até que uma tempestade se ergueu no horizonte e se aproximou rapidamente. Temendo pela força da chuva e dos ventos, estando na estrada, longe de qualquer abrigo, o mestre pediu aos discípulos que buscassem galhos e folhas largas, para improvisarem um cabana, assim como gravetos para uma fogueira.

Ao retornarem com o material, ambos começaram a construir a cabana improvisada. O primeiro discípulo era muito bom com nós, mas pouco sabia da estrutura; todavia o segundo era muito inteligente e sabia a melhor forma de organizar a montagem. Dessa forma os dois começaram a trabalhar naquele abrigo temporário enquanto o mestre preparava a fogueira para mantê-los aquecidos.

Então, quando a chuva e os ventos vieram, os três estavam seguros dentro da cabana de galhos e folhas, e confortáveis pelo calor da fogueira que também servia para fazerem a comida. Dessa forma o mestre agradeceu o maravilhoso trabalho de ambos e os fez perceber o quanto eram diferentes as habilidades dos dois e que, trabalhando em conjunto, em prol de um mesmo objetivo, conseguiram ir tão longe aonde nenhum dos dois teria ido sozinho. E que, agora, ambos sabiam como montar uma cabana improvisada.

Assim, durante o resto do caminho, o mestre e seus discípulos compartilharam vivências, discutindo os pontos diferentes e observando os parecidos, compreendendo de forma muito mais completa a própria espiritualidade que cultivavam. E, assim, quando chegaram à terra santa, como prometido, contemplaram como era lindo, de fato, o templo que lá estava, erigido em nome do amor e da união dos povos, e se sentiram realizados e profundamente espiritualizados. Todavia o mestre sabia que o que havia proporcionado aquele estado, havia sido a viagem, não o local de chegada.

Últimas Notícias

Destaques