Pare de se iludir com isso

Já dizia um antigo mestre que O Sábio é aquele que não perde nada, porque sabe que nada possui, e que não erra, porque não deseja agir; e se nada é feito, então nada fica por fazer e, assim, sem interferir no mundo, domina-o, deixando-o seguir seu curso. O Sábio sabe que toda ação humana é egoísta e nasce da ilusão da separatividade. Toda ação tem raiz no ego, por mais oculto que ele esteja ou por mais disfarçado de altruísmo que esteja.

A ilusão da separatividade dá-se de várias formas; e como diz Ceilia Meireles: “Sempre que diz, isto é meu, rouba-te a ti mesmo”. É como o dedo de uma mão, querendo possuir o dedo da outra mão, sem se dar conta que ambos integram e são o mesmo ser. Tal como explica a filósofa Lúcia Helena Galvão que, ao fazer duas valetas na praia, uma ao lado da outra, você não tem, de fato, duas coisas, pois ali tudo é areia. A percepção de duas valetas é ilusória, momentânea e dependente de quem observa.

Pensar é um ato separatista. Sempre que pensamos em um conceito, criamos outro inverso. Se pensamos no belo, percebemos que existe o feito; se pensamos no alto, percebemos que existe o baixo, e assim por diante. Sempre que damos um adjetivo a algo, nós criamos polaridade. Sempre que pensamos, fortalecemos a ilusão de separatividade, e sempre que agimos, fortalecemos nosso ego. Ora, os Sábios da antiguidade eram tão, mas tão bons, que hoje quase nada sabemos deles, perpetuando-se apenas seus ensinamentos.

Mas não entenda que “não pensar e não agir” é ficar estagnado ou vegetando. Não é esse o caso. O não agir é não fazer as coisas através de impulsos próprios da mente humana na tentativa de controlar o mundo, de forçar a trajetória de sua harmonia, ao invés de fluir com ela. Essa busca de união com a vida é sempre justa, nem muito, nem pouco, mas estando sempre em harmonia com os seus influxos. E, assim, quantos todos correspondem ao seu papel na existência, tudo entra em harmonia e todos saem vitoriosos e felizes. Pois estando cada coisa em seu lugar, a maldade não pode subsistir.

Entender que você está no mundo, mas não é do mundo, e o mundo não é seu, é a base para entender que todos os objetivos materiais estão fadados a desaparecerem, a se perderem, pois não são seus. E, lembrando-me de um texto de Khalil Gibran, que ouvi através da filósofa citada acima, eu o parafraseio: “Por que tranca tão bem a sua casa? O que tem lá dentro de tanto valor? Por acaso tem a justiça? A bondade? A beleza? Ora, se não tem nenhuma dessas coisas, que valor têm as que estão dentro da sua casa? Por que teme tanto perdê-las se elas não têm nenhum valor?”.

Nós, enquanto seres humanos, somos manifestações criadas por Deus (E entenda aqui Deus como a Existência sem começo ou fim que manifestou todas as coisas). Tudo o que pode existir já foi manifestado por Ele e todos os seus nomes já foram dados. Sendo assim, sendo o ser humano, ele próprio manifestação, não pode criar, só mexer no que já foi criado. E, assim, inventando de dar nomes, cria só ilusões, que não são manifestações vindas de Deus e, por isso, são impossíveis de serem alcançadas. E, o ser humano, apegado a essas ilusões criadas por ele mesmo, e nunca as alcançando, frustra-se com a vida.

Por isso encerro, mais uma vez parafraseando um antigo mestre, afirmando que na busca do conhecimento, todos os dias, algo é adquirido; mas na busca da Verdade Última, todos os dias algo é deixado para trás.

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