Já dizia o mestre em seu livro jamais escrito: “o grande mal da humanidade é ouvir somente a si mesma e, em sua arrogância, pensar de si como um ser divino em sua própria natureza”. Ora, quem me conhece sabe que sou muito apegado a temas religiosos, filosóficos e ocultistas. E, nesse contexto, ouvir somente a si mesmo tem um peso profundo.
Quando o Eterno nos dotou de consciência, através do seu Espírito, separou-nos dos animais comuns. Agora podíamos refletir sobre nossos impulsos selvagens e domesticá-los. Éramos animais conscientes do nosso entorno, de nós mesmos e do Eterno. E, através de seu Espírito, uma manifestação sua que habita em nós, ouvíamos a Ele e com Ele conversávamos. Porém, ainda éramos animais, mas era esse equilíbrio entre consciência e selvageria que nos permitia sermos livres para decidirmos nossos caminhos; sendo feitos, assim, à semelhança do Eterno. Dessa forma decidimos seguir nossos impulsos pelo prazer imediato, pelo prazer sensorial, selvagem, tão bem representado pela alegoria da queda e expulsão do Jardim do Éden. Viramos as costas para a voz do Eterno que ecoava dentro de nós, através de seu Espírito, para seguirmos nossa mente animal, atávica, bestial. Nós nos atiramos para fora, não fomos expulsos. Nós mesmos nos tornamos incompatíveis com aquele ambiente, com aquele estado.
Desde os temos mais remotos, a serpente é símbolo de inteligência; e esse símbolo se perpetuou por incontáveis civilizações antigas. Mitologicamente um animal esperto, racional, que fala. Ora, a serpente não simboliza outra coisa senão a própria mente do ser humano: um animal dotado de racionalidade e consciência. Porém, ainda assim, uma racionalidade inferior, bestial, pois a única parte sublime é o Espírito do Eterno, ao qual damos as costas em favor dessa mente animal arrogante. Uma mente que se opõe ao Espírito, que nos tenta a todo o momento pelos instintos mais primitivos. Instintos esses que comumente cedemos e, assim, cada vez mais nos distanciamos dessa voz superior. Fechamos nossos ouvidos para Ele e, em nossa arrogância, cultuamos nossa própria inteligência, falha e limitada.
Nossa mente animal comete erros levados pelo impulso, pelo desejo, pela ganância e diversos outros vícios. E é essa parte animal, com a qual mais convivemos, que nos leva à nossa própria destruição. Somo fadados a nos fazer mal, pelo simples fato de sermos falhos. Porque o que nos mantém realmente no caminho da felicidade é a inspiração que, quando aquietamos nossa mente selvagem, conseguimos perceber. Essa é a voz do Eterno, sussurrando para nós as coisas boas que deseja para nossa vida e o caminho que melhor nos levará à felicidade que merecemos.
Recobrar essa união com o Eterno, esse abrir de ouvidos para a voz que ecoa através de seu Espírito, deveria ser a meta vital da humanidade. Retornar a esse estado de harmonia com Ele e, através de sua voz, conduzir Sua luz ao mundo, tornando esse lugar novamente no paraíso de onde nós mesmos nos retiramos, uma vez que não éramos mais dignos de ali estar. Isso é o que se trata realmente de ser humano.