Certa vez um grande amigo me disse a frase: “Quando Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, deu a este o poder de criar também seus próprios demônios” e ela trata da própria natureza da realidade.
Nós crescemos com uma ideia de que Deus nos deu um espírito único, independente; ou então, como é muito comum dos movimentos atuais, pensar que temos uma centelha divina, um deus interior, o “eu sou” (termo distorcido e mal empregado, roubado do hebraico sem o mínimo de reflexão sobre o tema); mas centelha é uma faísca fora da fonte, um espírito é um pedaço de Deus, independente que um dia retornará para ele. Porém, todas essas ideias se equivocam ao indicar uma separação de Deus, quase como que exterior a nós. O que não é verdade, claro. E se essas ideias comuns entendessem que não é assim, não repercutiriam essa noção de centelha, de espírito, de deus interior, ou o que for, porque é incompatível.
A vida é um fluxo constante e infinito que existe a partir de Deus, nele mesmo, e não exterior ou separado dele. A vida é Deus em movimento, produzindo tudo o que se manifesta, através de sua ação. E nossa “centelha divina”, de fato não é centelha, mas um aspecto manifestado de Deus para experimentar sua própria criação, realizar-se nela plenamente. Nisso temos que entender que o “eu sou”, o “deus interior” do qual muito se fala em seitas, grupos, e movimentos “gratiluz” da Nova Era, não é uma versão superior nossa, ou um proto-humano perfeito do qual somos uma projeção. Não, essa consciência que temos de existirmos é o aspecto de Deus que experimenta a vida comum, que ele mesmo gera infinitamente. Nossa mente, raciocínio, memórias e inteligência, para a tristeza desses que não entendem, mas se iludem com essas baboseiras, é só isso que vive nesse período de tempo, e depois desaparecerá como areia ao vento. O que fica é a consciência, e esse um aspecto de Deus, é a Verdadeira Vida, porque é real. E essa consciência não pensa, não tem memórias, nem é inteligente ou raciocina. Quem faz isso é o animal, criado na dualidade. A consciência é apenas consciência, é o saber que se sabe, é essa percepção profunda da Existência, de Deus. E só isso é real. E com essa idéia, não quero dizer que Deus mesmo não seja pensante, muito pelo contrário. Digo que o aspecto que Ele traz à Manifestação para experimentá-la possui essa natureza.
E através da consciência o animal comum se torna sábio, sabedor de que sabe. Porém com isso ele também recebe a parcela da habilidade de moldar a vida em que vive, pois possui natureza do criador e, quando deixa de lado os mais sublimes influxos de Deus que lhe vem através da consciência, então ele cria seus demônios, moldando sua vida pelo caos da mente animal que também lhe é característica. Assim, é o próprio homem que cria o mal, pela falta de Deus, por assim dizer, que lhe guiaria a construir uma vida de plenitude e felicidade.