Não é fácil falar de Páscoa

A Páscoa, seja Cristã ou Judaica, sem dúvida é uma das festas mais importantes e traz o que há de mais sincero em cada uma das religiões. Conta o registro bíblico que a Pessach (Passagem), a Páscoa, foi instituída por Deus no livro de Êxodo para que todas as gerações, para todo o sempre, celebrassem-na em virtude da lembrança da passagem do Anjo da Morte sobre o Egito, onde foram mortos os primogênitos. Essa é a “passagem” celebrada, e não a passagem pelo Lago de Juncos (Yam Suf), erroneamente trazido como Mar Vermelho. E, em Êxodo, no capítulo 12, nos versos 14, 17 e 24, Deus deixa claro que a celebração dessa Pessach deve ser feita perpetuamente; isto é, reforçando o que disse antes, para todo o sempre. E quando aquele que é Eterno diz que essa instituição é perpétua… Ele fala sério.

Então vem Yeshua, Jesus, e, como exemplar Judeu que era, e também Fariseu, celebra a Páscoa com seus discípulos. E é aqui que as coisas se tornam complicadas. É aqui que Roma transforma a Pessach celebrada por Jesus com seus discípulos em uma nova ‘Ceia do Senhor’. Ora, Mateus, um dos discípulos, e o único que escreveu a punho seu Evangelho, ainda em aramaico, deixa claro que não há ali uma nova instituição que desfaça a anterior, mas sim uma lembrança nova a ser inserida naquela Páscoa, a de que o cordeiro que serve de alimento durante a ceia, deve lembrar do sacrifício e ressurreição de Jesus, o Messias, e que o pão ‘ázimo’ e o vinho façam lembrar do pacto dele com seus discípulos e com as pessoas para a salvação. Entretanto, em momento algum ele institui uma nova forma de fazer a Páscoa. Mas Roma é inteligente; ela pega a festa de Mitra, o Ágape, que também era celebrada com pão e vinho, e funde ambos para criar uma nova Ceia, adotada pelos primeiros Cristão gentios, isto é, não Judeus. Mesmo Paulo, homem genial, em Coríntios I, relembra que se deve ser celebrada a Páscoa com pães ázimos e que se deve, na sua celebração, relembrar do cordeiro e do sacrifício, como pediu o próprio Jesus.

É necessário lembrar que, primeiro: Deus instituiu perpetuamente a Páscoa e disse exatamente como ela deveria ser feita. E, segundo: Em Mateus, no capítulo 5, no verso 18, Jesus disse que a terra e os céus acabarão primeiro antes que passe um ‘yod’ (a menor letra hebraica) da Lei, isto é, a Torah, a Lei instituída por Deus nos cinco primeiros livros da Bíblia, sem que tudo seja cumprido. Ora, claro, vem Roma e institui que tudo foi cumprido com o sacrifício de Jesus e, portanto, a Lei antiga não precisa mais ser seguida. Entretanto não é o que vemos em Paulo, posterior a Jesus e talvez seu maior discípulo e maior disseminador de seu Evangelho, que era Judeu, e observa a Lei estritamente. Porque, ao contrário do que se ensina em muitos lugares, a Páscoa não possuía um sentido profético, mas como Deus mesmo deixou muito claro ao instituí-la, servia para lembrar o povo de Israel de seu livramento no Egito e que aquele Deus que os salvara era o único e verdadeiro, e que não havia outro.

O objetivo do texto de hoje não é, claro, atacar a Páscoa Cristã que é tão bonita e exprime o maior sentimento de fraternidade e amor que todos têm; muito pelo contrário. O objetivo é sempre levantar a pesquisa e a reflexão para que se estude os textos originais de qualquer assunto para, pulando distorções e erros de tradução, sempre se tenha o melhor entendimento de algo. Porque é só através do estudo profundo que se chega ao verdadeiro cerne de todos os sentidos. Feliz Páscoa!

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