Há uns dez anos, navegando pelo que hoje todos chamam de “deep web” (mas que na época era só a internet não indexada mesmo), mais precisamente na rede “Freenet”, acabei encontrando um arquivo magnífico de livros antigos e obscuros. Era uma biblioteca pública, por assim dizer, onde qualquer um podia enviar livros digitais para serem disponibilizados gratuitamente por lá. Os livros, em inglês na sua maioria, tinham temas dos mais variados e, quase todos, difíceis ou impossíveis de serem encontrados na internet comum, a que usamos diariamente. Esse site infelizmente não existe mais, e eu já não possuo os arquivos digitais que de lá baixei há anos, desde que perdi meu antigo HD externo.
Dentre esses livros havia um que recordo muito bem. Um que fiquei maravilhado ao ler e sequer imaginava sua existência. Era um tal de “Sefer Adam”. Não o “Sefer Toledot Adam”, com o qual pode ser confundido. Não. Era um livro de poucas páginas. Umas trinta ou quarenta, traduzidas para um inglês difícil, digitalizado por scanner. E seu nome: Sefer Adam, pode ser traduzido livremente como “O Livro de Adão” e, vindo do hebraico, é claro que se refere ao Adão bíblico, companheiro de Eva. O livro teria sido escrito por um escriba ligado a Jacó, que lhe ditou a herança do conhecimento oral que recebera de seu pai Isaque, que recebera de Abraão, que recebera de seus ancestrais até Sem, que recebera de Noé e este de seus ancestrais até Adão.
O texto trazia um conhecimento que, segundo o próprio Jacó, que ditou o livro, um Anjo do Eterno havia ensinado a Adão no dia em que saiu do Jardim para que pudesse, através dele, ensinar as suas gerações como retornar aquele lugar um dia. Um lugar que, segundo as próprias palavras de Jacó, “estava além dos pensamentos do filho do homem, mas tão perto que o coração o sentia todos os dias”. Nunca vou esquecer essa definição porque, afinal, esse livro é um dos pilares da minha fé e muito da essência de seu conteúdo eu gravei em minha mente perfeitamente, de tanto lê-lo e relê-lo para bem compreender seu texto.
O Sefer Adam que encontrei naquela biblioteca digitalizada, perdida em um site não indexado pelos buscadores da internet comum, invisível à maioria dos olhos, ensinou-me um conhecimento que norteou muito do meu aprendizado, das minhas pesquisas, dos meus experimentos e, claro, hoje vejo como ele era, de fato, um livro místico, no sentido mais perfeito do termo. Um livro único. O conhecimento ali, supostamente ditado por Jacó ao seu escriba, era tão simples, no fim das contas, mas de difícil entendimento inicial por falta de referências mais profundas; porém, uma vez com aquelas chaves nas mãos, novos saberes iam se abrindo e uma compreensão mais íntima da Verdade Última de Deus ia se instalando.
Encontrar a Deus é simples, mas não é fácil. Não é naturalmente demorado, mas não acontece da noite para o dia. É um processo dificultado pela mente do ser humano, que luta contra tudo o que nos faz retornarmos aquele estado de União com Deus; aquele retorno ao Jardim do Éden, ou ao Paraíso. Reencontrar a Deus é simples como fechar-se a si mesmo para o mundo e abrir-se para dentro e, estando no mundo, dele não ser escravo, mas que possa ser dele senhor; e não só sobre ele, mas, mais importante, sobre si mesmo. E, por isso, se quiserem conhecer mais do conteúdo desse livro, é só me deixarem saber.
