Quantas vezes, só nesses dois primeiros meses do ano, você já ouviu as frases “É sobre isso”, “Sua verdade não é minha verdade”, “… e está tudo bem”? Parece tão bonita uma aceitação universal das verdades individuais e absolutas das pessoas, mas na realidade é ridiculamente rasa e perigosa. Uma conversa em um boteco de bairro, regada à cachaça e ovos em conserva tem mais fundamento filosófica do que essas frases repetidas por papagaios a torto e a direito.
Primeiro, um pensamento para deixar uma coisa bem clara: Quando você aceita as verdades individuais de cada um (que por si só já não são verdades, pois a verdade sobre algo é única. Não existem duas verdades para um mesmo fato. Algo é o que é), você está fomentando e reafirmando essa individualidade de opinião, o que dá forças para a discriminação. Já parou para pensar se, por baixo das ideias de fulano, sua verdade é de que a raça dele é superior em algo? Já vimos o que acontece, não é? E está tudo bem? Óbvio que não!
Concordo, meu exemplo pode ter sido extremo, mas o ponto é o mesmo. Quando você aceita indiscriminadamente a opinião dos outros, por um falso e político “respeito” cheio de superioridade, porque você é uma pessoa evoluída, você impulsiona o nascimento de ideias estúpidas e discriminatórias. Daí temos movimentos como antivacinas, terraplanistas e neonazistas (sim, infelizmente); pelo simples fato de que você quer “respeitar” a verdade do outro que não é a sua, porque “todos temos o direito de termos nossas próprias verdades e ‘tá tudo bem’ ”. Não, não está. Existem três coisas que devem ser ferrenhamente combatidas: ignorância, tirania (moderna opressão) e o preconceito. A sua verdade, não tem que ser a minha, ela precisa ser a verdade. E a minha, também precisa ser a verdade. Porque ela é uma só.
Quando o que é dito “depende do seu ponto de vista”, 50% do sustento dele já se foi por água abaixo. Pontos de vista e opiniões saem da cabeça sem base nenhuma e não têm valor, são “achismos”. Agora, quando há base para gerar um argumento, capaz de gerar um diálogo, de onde sairá uma síntese e uma nova informação, então não é mais opinião, é reflexão e estudo. E isso tem valor. O que eu quero dizer aqui é que quando se aceita a “verdade de cada um”, aceita-se junto no pacote qualquer pensamento ignorante, desmedido e, algumas vezes, perigoso. E, por isso mesmo, não está tudo bem.
Você tem o direito, e muitas vezes o dever, de discordar de uma ideia e combatê-la com argumentos válidos e embasados. Do contrário, tentando passar esse ar de pessoa evoluída que aceita e respeita os pontos de vista de todo mundo, você está sendo conivente com todo o mal que pode nascer dali. Tomemos como exemplo uma frase que ouvi na televisão esses dias: “Você não precisa gostar de mim, e tá tudo bem… é um direito seu”. Parece simples, não é? É um direito. Não somos obrigados a gostar de nada, correto? Só que aqui você já começa a fomentar a discriminação. Pense! Por que não gosta? Tem motivo? Qual? Tem sentido, ou é só opinião? Isso pode gerar um risco no futuro? Todas essas frases devem ser refletidas, questionadas, quando algo assim acontece. Não é “… e tá tudo bem”.
Por isso deixe a preguiça mental de lado, pare de repetir frases rasas igual a um papagaio e comece a pensar no que fala. Ouça algo e reflita duas vezes antes de falar. É por isso que temos só uma boca, mas dois ouvidos.