Houve uma vez, em um tempo remoto, uma mulher, uma jovem indiana, que andava pela rua distribuindo amor e gentileza. Ela não fazia distinção de ricos ou pobres, das mais altas castas às mais baixas, nas quais, pela religião, ela sequer era permitida tocar. Todavia, ela tocava. Ela abraçava. Ela amava. Os populares diziam que ela era a reencarnação de Vishnu, outros, de Buda. Mas todos concordavam que ela era uma divindade em carne humana.
Ela não fazia milagres, mas compartilhava sua sabedoria. Ensinava os caminhos para a liberdade da mente e inspirava as reflexões que abriam os olhos para um mundo novo. Ensinava como se reconectar com os aspectos mais sublimes da vida, da natureza, do ser humano e de Deus. As pessoas a amavam, os sacerdotes das religiões oficiais a odiavam. E assim ela vagava pelo subcontinente indiano, conversando, ajudando e ensinando a todos que quisessem lhe ouvir.
A essa divindade em carne humana, da qual todos falavam, chamavam de Aneela, mas ninguém sabia, de fato, o seu nome. E nem porque e como surgiu aquele do qual lhe chamavam. Porém, um dia, ela desapareceu, e todos sentiram sua falta. No primeiro mês, todo mundo a procurava, no segundo, alguns ainda tinham esperança e não desistiam, porém, do terceiro mês em diante, as pessoas começaram a retornar suas mentes para a vida cotidiana e logo se esqueceram de Aneela.
Anos depois ela retornou, e quis saber, contente e esperançosa, o que as pessoas haviam feito com tudo o que ela lhes havia ensinado; porém, com profunda tristeza, descobriu que nada tinham feito, que nada haviam somado aquele conhecimento e, pior, sequer o haviam compartilhado com outras pessoas que não o possuíam. Aneela então partiu para o interior das florestas da índia, no intuito de entender o porquê do ser humano não cultivar a própria sabedoria e não buscar elevar, não só a si mesmo, mas todos os outros, compartilhando seu saber.
Aneela nunca mais retornou. Alguns dizem que ela nunca encontrou a resposta; outros dizem que a resposta foi tão triste que ela deixou o mundo, retornando para os planos mais divinos de onde havia nascido. E suas palavras de sabedoria hoje são sussurros discretos e perdidos dentro de círculos secretos, onde poucos conseguem decifrar a profundidade de seu saber e, menos ainda o compartilham.
Alguns atribuem a ela o seguinte texto: “mas o ser humano é como um pavio que, sem óleo para abastecê-lo, termina de queimar e se apaga. Quisera eu ensinar a eles como produzir seu próprio óleo e ter a luz que nuca se vai, porém eles não quiseram aprender. Antes mergulharam na escuridão e, no conforto de sua própria desgraça, escolheram perecer eternamente.”
E tudo o que Aneela fez foi distribuir amor e gentilezas, compartilhando seu saber e suas reflexões. Respeitando a todos e vendo a todos como iguais. Ela foi tida como uma divindade, quando, no mais profundo de seu ser, estava sendo apenas humana.