A mulher que se ponha no seu lugar

Meu pai faleceu quando eu ainda era muito novo. Então, desde cedo, eu fui criado por meus irmãos e irmãs mais velhas, e minha mãe. Ainda que todos trabalhassem, eu acabava passando mais tempo com minha mãe e uma de minhas irmãs mais velhas. Na escola, tive alguns professores homens, mas é inegável o número superior de mulheres no ensino e, assim, acabei tendo muitas professoras, cuja maioria me marcou profundamente.

E, acredito, grande parte da sensibilidade que eu tenho em perceber as sutilezas da vida, das pessoas, do momento, eu herdei dessa mulherada incrível com as quais sempre convivi e sempre me serviram de exemplo e inspiração.

Não é à toa que a grande maioria das personagens principais dos meus livros são mulheres. O respeito e apreço que eu carrego por elas precisavam ser registrados de alguma forma, além das atitudes diárias.
Eu aprendi a ter a mais profunda admiração, de tudo o que envolve o conceito de ser mulher. É quase um ser mítico, cheio de zonas cinza, claras e escuras. Com um leque de possibilidades sem tamanho. E, digo sem medo de errar que, mesmo muitas das mulheres que dizem “lugar de mulher é onde ela quiser”, não fazem ideia das dimensões de onde elas realmente podem ir, superando, não só a barreira social clássica, de ser mulher, mas superando a si mesmas de formas mil vezes mais harmoniosas do que qualquer homem. E, repito, digo isso sem medo de errar, porque vejo essas superações diariamente, desde que me conheço por gente.

Sempre imaginei um mundo utópico onde ser mulher, homem, trans ou qualquer outra designação de gênero nem sequer tenha importância. Não seria quesito nenhum para nada. Seria natural, como o é respirar. E, mais uma vez, através da literatura, como escritor, tento realizar esses sonhos utópicos. Por isso descrevo, no quarto volume de minha série de fantasia A Saga Draconiana, um mundo próximo a isso, onde uma personagem principal, descendente de indígenas e mulher trans, tem como único problema os inimigos de sua Essência de Dragão. Nada a ver com seu mundo humano. Porque na sociedade comum, ela é isso mesmo: comum. Padrão. Normal.

Porém, mesmo assim, escolhi que essa personagem fosse uma mulher trans, e não um homem trans, porque, ainda nesse quesito, sou admirador desse histórico mítico das mulheres como deusas da superação. E, sim, concordo com você que leu isso e disse que não devemos romantizar a garra feminina porque num mundo justo a mulher não deveria precisar ter “garra”. Mas não vivemos em um mundo justo ainda e não podemos desvalorizar toda a garra que conquistou vitórias até agora. Então sim, nesse momento, eu romantizo essa faceta de guerreira invencível, porque é o que vejo quando olho para minha mãe, minhas irmãs, minha esposa, minhas amigas, colegas e tantas outras mulheres pelas ruas do mundo.

Eu sonho com esse dia justo onde não existirá a necessidade da mulher ser “guerreira”, mas até lá, eu presto minha homenagem através da literatura, e faço minha parte como homem através das minhas atitudes em favor dessa justiça. Só assim poderemos ter, no fim, um mundo mais humano, não acha? E você, o que faz?

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