A Loja 77 – Parte V

De pernas trêmulas, Felipe, com o rosto coberto por um capuz, aguardava sentado em uma cadeira, em um local de puro silêncio. Não fazia idéia de onde aquele homem que lhe encontrara no beco o havia levado. Tudo tinha sido muito rápido: o agarramento, o capuz, a van. Em sua cabeça, a única coisa que lhe ecoava era “aqueles homens me acharam e vão me matar…”

Ele percebeu um som na porta.“Tirem o capuz”, ele ouviu a voz do homem da lixeira. E, assim que lhe tiraram o capuz, a luz forte quase o cegou, deixando uma visão turva que adicionava mais tensão aquele encontro forçado.

“Não tenha medo”, disse o homem, “estamos aqui para ajudá-lo. Desde que pegou o papel, ficamos lhe vigiando, tentando encontrar a Loja onde estava”. Felipe, assustado, respondeu: “Eu não fiz nada, por que querem me matar?”. O homem gargalhou. “Queremos ajudá-lo. Como queríamos ajudar o Sr. Wurth, mas ele estava desesperado, achando que queríamos lhe fazer mal…”. E a conversa prosseguiu, com aquele homem explicando que faziam parte de uma sociedade cujos valores batiam de frente com os da Loja 77 e por isso queriam expor a todos e acabar com ela, pois rendiam culto ao mal e articulavam para controlar o mundo pelas sombras. Felipe, sem acreditar, indagou sobre o ferimento do Sr. Wurth, mas logo o homem explicou que ele havia se machucado ao pular uma cerca de ferro, enquanto fugia, mas que passava bem.

Felipe entendeu, durante aquela conversa, que eles queriam que ele agisse como agente duplo, permanecendo dentro da Loja 77, mas levantando documentações e provas contra ela. Eles viam nele uma boa pessoa, e sabiam que ele não compartilhava daquela visão sinistra da Loja. “Você sabe, Felipe…”, disse o homem, pensativo, “A Maçonaria e a Rosacruz são ordens tão antigas e ambas pensam de forma parecida: o homem precisa aperfeiçoar-se a si mesmo através das virtudes, do caráter e da produção do bem. Coisas que a Loja 77 evita totalmente. Seus membros são corruptos, cultuam o próprio mal e trabalham na escuridão para controlar o mundo. A virtude não acha lugar entre eles. E com sua ajuda, vamos encerrar seu trabalho maligno e criminoso”. Assim, depois de uma longa conversa, Felipe aceitou a proposta e, vendo naqueles homens ali, uma espécie de virtude e caráter que pareciam ressoar em conjunto, como também lembrando do vestido da pobre moça, decidiu que trabalharia junto deles para derrubar aquela ordem do mal.

Dessa forma, retornando à Loja 77, Felipe passou a ficar de olho e copiando ou fotografando todo e qualquer documento que podia, que ficasse a mostra; entretanto, nada de muito revelador parecia acessível. Isto, até o dia em que um dos chefes adentrou seu quarto e lhe disse: “Acho que chegou sua hora, Felipe. Vamos iniciá-lo nos segredos mais profundos da nossa Loja, e poderá fazer sua comunhão conosco, nos rituais mais poderosos. Seus sonhos… todos eles, estão para se realizar”.

Aquela frase lhe deixou em dúvida. Realizaria mesmo todos os seus sonhos? Valeria a pena? (Continua…)

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