A Loja 77 – Parte IV

Fechado em seu alojamento, Felipe relembrava o texto do pergaminho e seu conteúdo sinistro. Ele sabia que a Loja 77 era um braço de uma Ordem mais antiga que, mesmo possuindo moldes tradicionais de ordens secretas, na verdade pouco ou nada tinha a ver com outras como a Rosa Cruz ou a Maçonaria. A Ordem de onde a Loja 77 vinha, havia nascido no sul da Alemanha no século quinze e tinha como objetivo levar ordem ao mundo caótico. Para isso ensinava a seus membros os segredos do Universo e a Alquimia, o que, segundo eles, proporcionaria uma vida longa para que cumprissem seus objetivos.

Todavia, aquele pergaminho antigo tinha um teor mais perturbador, e falava de controle social, de controle de natalidade, de controle de informação e qualidade do ensino, e de necessários sacrifícios. Separava o mundo entre aqueles que produziam e aqueles que controlavam e organizavam. Estes últimos, para que não houvesse revolta dos mais simples, deveriam permanecer ocultos para fazer tudo funcionar. Era uma ação necessária para se manter a ordem no mundo.

O conhecimento era incrível e Felipe não podia negar, porém, a que custo? Dessa forma, passados os primeiros dias de aprendizado, ele foi levado a um salão mais interno, onde participou de algumas festas para interagir com outros membros. E assim ele cresceu dentro da Loja 77 e foi aprendendo mais sobre eles. E, quanto mais aprendia, mais entendia que sua saída, por mais que quisesse abandonar aquele mundo que ficava cada vez mais estranho, era impossível. Ele já sabia demais.

“Está chegando a celebração de Solstício de Verão do fim de ano….”, comentou um dos membros para ele. E, explicando a Felipe, ele contou que naquela celebração eram feitas libações e um ritual em conjunto para que o Universo concedesse a cada um deles o poder sobre suas vidas e as dos mais simples, para que se mantivesse a ordem no mundo. E foi ali que Felipe descobriu que teria um imenso sucesso em qualquer carreira que quisesse e que teria muito dinheiro para aproveitar a vida. E devia ser verdade, visto que todos os membros eram muito bem de vida e reconhecidos por seu imenso sucesso.

Assim, certo dia, um dos chefes da Loja 77 chegou ao saguão trazendo pela mão uma jovem de não mais do que dezoito ou dezenove anos. “Uma nova inicianda”, logo pensou Felipe, visto que ela vinha vestida com uma roupa branca e leve, quase como um véu. Entretanto, em seu semblante, seu olhar parecia longínquo. Porém, como não fazia parte do processo que acompanharia, ele seguiu seus afazeres enquanto a jovem acompanhou os mais altos chefes para dentro dos salões onde se faziam os rituais.

No fim da noite, ao tirar o lixo do jantar, abrindo a tampa da enorme lixeira no beco dos fundos da Loja 77, Felipe se deparou com algo que lhe fez tremer completamente. Lá estava o vestido branco. O reconhecera na hora. E estava coberto de sangue.
“Agora você sabe…”, Felipe ouviu a voz de um homem vindo de trás. (Continua…)

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