Se a maior parte das pessoas com a saúde em dia se sentiu apreensiva com a chegada do coronavírus ao Brasil e o número crescente de mortes, aqueles que já encaram uma doença grave e que, potencialmente, pode baixar a imunidade do paciente, estão ainda mais preocupados. A boa notícia é que estar em tratamento contra o câncer não necessariamente representa um agravamento no quadro do paciente de Covid-19.
O oncologista Carlos Barrios explica que os cuidados que as pessoas com câncer devem ter com relação ao coronavírus são os mesmos de toda a população e, assim como a maior parte dos casos, em algum momento poderão pegar a infecção, mas sem consequências clínicas. Isso também se aplica para a questão dos grupos de risco. “Pacientes com câncer também apresentam diferentes situações. Os que têm leucemia ou fizeram transplante de medula, por exemplo, precisam de mais cuidado. Individualizar a população é fundamental”.
Em relação à continuidade das aplicações de quimioterapia e radioterapia, o oncologista do Grupo Oncolínicas diz que cada paciente deve manter contato com o seu médico, mas, em linhas gerais, a orientação é que os tratamentos não sejam interrompidos. O ponto crítico é não criar pânico. “Embora portadores de doenças crônicas, como problemas cardiovasculares e diabetes, tenham sido associados a maior risco, na população em geral, mais de 99% não vai ter nenhuma consequência clínica”, afirma Carlos Barrios.
Apesar do senso comum de que a baixa na imunidade de quem faz quimio, por exemplo, é preocupante, o especialista destaca que os pacientes com câncer não são iguais ou têm o mesmo risco. “A maior parte dos casos não carrega nenhum risco adicional somente por ter um diagnóstico de câncer. Alguns pacientes que estão fazendo tratamentos mais ‘pesados’ podem apresentar baixa da imunidade e uma chance maior de contrair não infecções virais em geral, mas outros tipos de infecção também. O mais importante é que cada paciente converse com seu médico para identificar com precisão qual o seu risco em particular”, diz Barrios. Porém, alguns cuidados são básicos, como isolamento social e a segurança durante visitas e trânsito por clínicas e hospitais, que devem ser tomados para proteger pacientes e profissionais de saúde.
A orientação do médico também diz respeito a quem tem câncer no sistema respiratório. O fato de ter um câncer de pulmão, segundo Barrios, não aumenta o risco necessariamente. Entretanto, sempre que o tratamento possa ser feito ambulatorialmente, sem que o paciente precise de internação hospitalar, muito melhor, mas isto já era verdade antes mesmo da pandemia.
Quando for necessário, procure os serviços de saúde
Já era esperado – e até natural – que os serviços de saúde tivessem uma redução na procura por outros atendimentos que não a Covid-19. É que as pessoas estão se preservando, evitando ir às UBSs e hospitais, por exemplo, mantendo-se distantes de uma chance maior de contaminação. Porém, em casos urgentes, a espera de mais um dia pode representar o agravamento de uma doença.
O médico Carlos Barrios lembra que a pandemia não pôs fim às outras doenças. Ao contrário. Segundo ele, em 2020, mais de 500 pessoas já faleceram de câncer (em seus diversos tipos) na cidade de Porto Alegre. Números similares são registrados nas doenças cardiovasculares. Estas situações devem ser diagnosticadas, tratadas, acompanhadas e os pacientes precisam de cuidado e atenção. “É fundamental que o manejo destas situações continue sendo monitorado pela equipe médica. Muitas coisas podem ser adiadas, mas muitas outras não podem e não devem esperar”, resume o profissional.
No caso dos pacientes oncológicos, isso também diz respeito às situações em que o tratamento terminou e agora a pessoa apenas faz o acompanhamento clínico. Não há motivo para medo, já que esse paciente não tem risco aumentado (além daquele relacionado com a idade e as outras comorbidades, como diabetes, hipertensão, obesidade, etc.). Porém, é importante manter contato com o médico para definir se é possível ou não atrasar a realização de algum exame ou procedimento. Isto vai depender da situação de cada paciente e de cada caso específico.