Salvando vidas, escrevendo histórias

A medicina é uma das áreas profissionais mais nobres do mundo e neste domingo, 18 de outubro, comemora-se o Dia do Médico. Com a pandemia do novo coronavírus esta categoria é uma das principais na linha de frente de cuidados, e segundo pesquisa do Datafolha, eles se tornaram os profissionais de maior credibilidade em 2020, com 35% da confiança da população. Para comemorar a data, é justo que eles, que diagnosticam, previnem e tratam as doenças humanas relatem os desafios e fascínios da profissão.

Desde março atuando com os casos Covid, o diretor Clínico da Unimed Vale do Caí, José Pettine, de 36 anos, é especializado em Medicina Intensiva, e dedica a sua formação aos pacientes mais críticos. “Eu escolhi a Medicina Intensiva, porque eu sempre gostei de trabalhar com pacientes mais graves, com uma área que envolvesse mais tecnologia. Eu gostava de trabalhar com ventilação mecânica e pacientes mais críticos”, diz.

Com interesse em biologia, e uma característica natural de ajuda ao próximo, o médico relata que a vontade por ingressar na profissão veio desde pequeno. “A minha maior motivação é salvar pacientes, a minha formação sempre foi pra pacientes graves e a minha grande motivação é ajudar a recuperar esses pacientes mais graves, salvar vidas”, comenta.

Diretor Clínico desde 2018, e coordenador da CTI da Unimed, Pettine realiza as internações dos pacientes com Covid-19, no hospital, além de também acompanhar os casos. Segundo ele, um dos principais desafios desse momento é a atualização de informações. “Durante a faculdade em relação a pandemias mesmo a gente tem bastante a parte teórica, a parte prática quase ninguém vivenciou isso dessa forma, do tamanho que foi. Em 2009 teve a pandemia de H1N1 e foi bem na época da faculdade, então a gente chegou a atender alguns pacientes naquela época, mas nem perto da proporção que foi”, relata.

Com uma fase inicial de medo, o profissional conta que com o tempo e o contato com os pacientes e a doença, o conhecimento foi aumentando, assim como a segurança. “O nosso principal ponto positivo foi em relação à questão tanto do impacto com os pacientes internados que não tiveram o coronavírus quanto os colaboradores. A gente não teve nenhum paciente que pegou o coronavírus aqui dentro do hospital internado, e isso pra nós foi muito positivo”, diz. Em contrapartida, Pettine fala que teve contato com pacientes que faleceram com a doença, e esse momento foi emocionalmente difícil. “A gente nunca quer perder um paciente, e com essa pandemia a gente se preparou tanto e quando o paciente não sobrevive é uma sensação de derrota. Teve todo um preparo pra isso, mas também serviu pra gente ver que nós não conseguimos também controlar tudo. Tem coisas que vão além do nosso alcance, é uma doença grave, agressiva”.

Apesar disso, o médico se alegra por todos os casos de sucesso que saíram do hospital, e ressalta, a relação humana entre médico e paciente é a base da confiança e do tratamento. “O tratamento do paciente não é simplesmente tu tratar a doença através de uma medicação, em boa parte das vezes o tratamento é a relação de confiança entre o médico e o paciente, é tu passar a confiança naquilo que tu está fazendo. Que nunca se perca esse vínculo do médico e do paciente, porque a medicina vai evoluir, a tecnologia vai chegar, a gente vai mudar a forma como vai atender os pacientes, mas o vínculo e essa relação de confiança nunca pode se perder”, completa.

A médica da Secretaria de Saúde, Dagmar Kranz, acredita na
humanização dos atendimentos

O amor pela medicina preventiva
Atuando no atendimento clínico da Secretaria de Saúde de Montenegro desde 2004, Dagmar Kranz, lutou desde os seus 15 anos para garantir os estudos e a faculdade de medicina. A catarinense ainda jovem conseguiu uma bolsa de estudos em um internato em São Leopoldo, e após a conclusão e a realização do vestibular, a vez foi para o curso de medicina na Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA), em que se formou no ano de 1986. “Morei em uma casa de estudante, e foi bem difícil, porque a Fundação hoje é toda Federal (UFRGS), e na época ela era semi, então a gente tinha uma mensalidade pra pagar […] Inclusive durante o curso pra me manter eu também fazia plantões”, diz.

Com especialização em Homeopatia, Dagmar conta que gosta muito da área da medicina natural e preventiva. “Eu sempre fui mais de ambulatório, não de hospital. Gosto muito de trabalhar na área da medicina preventiva, que tu consegue orientar”, declara. Segundo a médica, orientar, melhorar a qualidade de vida e ajudar as pessoas é muito gratificante.

Com os atendimentos sempre ocorrendo desde o início da pandemia, Kranz conta que é impossível não ficar tenso com a situação, mas que o importante é não parar. “Reduzimos a quantidade de atendimentos aumentando o intervalo, pra evitar o acúmulo de pessoas na sala de espera, isso a nível de consultório também. Onde se atendia dois, hoje se atende um, pra ajudar também a saúde do paciente”, fala.

A pandemia trouxe aprendizado de cuidado e prevenção, porém muitos serviços são essenciais. “A gente tem que manter os preventivos, de mama, de próstata, todos; os tratamentos tem que seguir. Não da pra parar um tratamento de câncer, depois tu não consegue mais correr atrás”, explica.

A médica também ressalta que a humanização na medicina é essencial, e a tecnologia pode ser uma aliada no processo de tratamentos. “A gente precisa muito é humanizar o atendimento que se perdeu muito no decorrer dos anos, se ficou muito na base dos exames clínicos e se esqueceu um pouco esse lado da relação médico/paciente, eu acho que isso é bem importante também”, completa. Além disso, ela homenageia todos os médicos nessa data, em especial a colega Belkis Efrom. “Eu admiro muito a trajetória dela, sempre se dedicou bastante, sempre fiel aos preceitos da medicina e é um belo exemplo na nossa comunidade médica”.

Felipe Pires é médico no Hospital Montenegro 100% SUS e, desde o início da pandemia, atua diretamente com os casos confirmados

Um desafio a ser vencido
Atuando também diretamente com os casos de Covid-19, o médico especialista em Infectologia e coordenador da Unidade de Internação Clínica do Hospital Montenegro 100% SUS, Felipe Pires, de 34 anos, conta que seu maior motivador é o paciente. “É muito bom ver o paciente melhorando, ouvir o retorno das pessoas, ouvir o agradecimento das pessoas pelo serviço que é bem feito, isso é muito gratificante. […]Eu saio de casa pra trabalhar sempre muito feliz de estar vindo pro trabalho, porque eu gosto do que faço e eu sei que o que eu faço tem um impacto importante nas vidas das pessoas”, comenta.

Médico da equipe de Internação Covid do HM, Pires atendeu a maioria dos pacientes infectados e garante que esse momento está sendo desafiador. “A pandemia mexeu com muita coisa da nossa vida diária, de poder ver os amigos, de poder ver a família, de poder viajar, de poder passear. E isso a gente sente como tudo mundo sente. E ainda por cima está ali, vendo como os pacientes ficam e vendo como é que é a doença”, diz.

Como em toda a profissão, alguns dias são mais difíceis que outros, mas o médico conta que o contato com óbito em decorrência do coronavírus é complicado. “É bem difícil, principalmente do ponto de vista de pensar como que aquele familiar está passando com isso”, fala. Pires também conta que houveram situações em que familiares internaram juntos no hospital, e isso é uma situação inusitada. “A gente não costuma ver isso na medicina, nas últimas epidemias que tiveram não era uma coisa comum. A gente não via famílias inteiras internadas por H1N1, no Covid a gente teve”, fala. Mas para ele, o que torna tudo um pouco mais leve é que na matemática final as vidas salvas e pacientes com alta foram muito mais que os pacientes que faleceram.

Além do HM, Pires também atua como Infectologista na Secretaria de Saúde, e fica grato por trabalhar na área que sempre teve interesse. “É uma especialidade que me permite seguir vendo o paciente como um todo. Doenças infecciosas são na sua maioria doenças que tem tratamento, que o paciente melhora o tratamento. Então é legal ver o seu paciente melhorando e também é um campo que sempre tem coisa nova surgindo, então é instigante”, relata.

Nesse Dia do Médico, Felipe Pires agradece por todos os médicos, profissionais da saúde e das áreas essenciais que estão trabalhando na pandemia. “Espero que o ano que vem seja um ano melhor pra todo mundo, e que no Dia dos Médicos do ano que vem a gente possa comemorar uma vacina, um tratamento efetivo, um controle da pandemia, e que a gente possa ter um ano melhor que 2020”, completa.

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