As lojas de material escolar já estão lotadas de pais pesquisando preços e estudantes de olhos atentos às novidades. Um dos itens que mais interessa à garotada é a mochila – muitas sendo vendidas numa espécie de kit contendo estojo e lancheira – com estampas dos mais diversos estilos e personagens. Mas, antes de pensar no visual, é bom avaliar se o modelo atende às necessidades da criança ou adolescente sem comprometer a saúde da coluna.
O excesso de peso nas mochilas escolares e o esforço repetitivo na infância e adolescência ocasionam 70% dos problemas de coluna na fase adulta, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o ortopedista e cirurgião de coluna Luiz Cláudio Lacerda Rodrigues, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), o grande problema não é só o peso do material, mas a forma como as crianças carregam as mochilas.
O ortopedista explicou que não existe um peso ideal. “Esse peso é sempre calculado em relação ao peso da criança. O que se recomenda é que o peso máximo para cada criança seja 10% do peso corporal”. Isso significa que, para uma criança que pesa 30 quilos, por exemplo, o ideal é que ela carregue, no máximo, uma mochila com 3 kg.
O especialista citou também que a mochila tem que ficar sempre muito justa nas costas. “As crianças têm tendência a usar mochila muito baixa e solta. Além de ela ficar puxando a criança para trás, ela fica como se estivesse batendo nas costas da criança o tempo inteiro”, comentou. A orientação é que a mochila seja usada o mais alto possível e sempre bem justa nas costas.
De acordo com o ortopedista, ao carregar as mochilas de forma errada, as crianças e os jovens são candidatos a sofrer de problemas na coluna depois de adultos. Durante essa fase, as crianças ainda estão em desenvolvimento, e a coluna é muito frágil. “Os ossos ainda não estão com a consistência totalmente dura, os discos estão em fase de amadurecimento. Então, qualquer trauma ou esforço excessivo nessa idade é lesivo para a coluna, diferente da fase adulta, que já tem uma coluna estruturada”, diz (com informações da Agência Brasil).
Eletrônicos também são vilões
Segundo Luiz Cláudio Lacerda Rodrigues, além das mochilas, outros grandes vilões da coluna das crianças são os aparelhos eletrônicos, quando usados da forma incorreta. “São as duas coisas que hoje estão prejudicando muito a coluna das crianças. E a gente não consegue saber o quão grave isso vai ser no futuro”. O que se sabe é que a incidência de dor nas costas de crianças está se assemelhando à da dor nas costas dos adultos, explicou o ortopedista. Ou seja, em seis a sete crianças em cada dez, essas dores têm uma chance de cronificação por falta de orientação e pela falta de cuidados com a coluna em termos de peso.
Em relação aos produtos eletrônicos, como celulares, tablets e laptops, o ortopedista Luiz Cláudio Lacerda Rodrigues informou que já há até um nome para a doença que afeta o pescoço. É “pescoço de texto”. O médico ressaltou que, quando se fala da coluna, ela trabalha como órgão único. Isso quer dizer que quando a pessoa prejudica sua cervical, ela acaba afetando também outras partes da coluna. “A lombar e a toráxica vão junto. A primeira a apresentar problema é a cervical, mas, como ela muda de posição, a coluna inteira tem que mudar”. Aí surgem os grandes problemas, como envelhecimento precoce da coluna e uma incidência maior de dor e de hérnias.
Dicas
– Organize a mochila de forma a distribuir o peso: os materiais mais pesados precisam estar mais próximos ao corpo e, havendo bolsos laterais, distribua uniformemente os objetos para equilibrar o peso.
– Ajuste ao corpo: a mochila deve estar bem ajustada ao corpo, sem ficar balançando quando o estudante caminha.
– Leve só o necessário: separem os itens necessários para a aula do dia seguinte na véspera. Arrumar a mochila para a semana toda é um erro.
– Compre um modelo menor: quanto maior o acessório, maior a chance de o estudante levar itens desnecessários.
– Alças largas: ao escolher a mochila, cuidado com as que têm alças muito estreitas. Isso causa dores nos ombros.
– Um caderno para cada matéria: ao invés de comprar um caderno de muitas páginas e usá-lo para várias disciplinas, compre vários itens de menos folhas e leve cada um no dia certo.
– Rodinhas podem ajudar: no caso das crianças pequenas, uma alternativa são as mochilas com rodinhas. Elas ajudam. Mas a altura é importante. A criança não pode ficar com a coluna torta para conseguir pegar a alça e puxar a mochila.
– Nos dois ombros: nunca use a mochila dependurada em apenas um ombro. O peso deve estar corretamente distribuído.