Há pouco mais de uma semana, a vida da montenegrina Larissa Santos tomou um rumo inesperado. Entre os dias 6 e 25 de fevereiro ela esteve visitando França, Itália, República Tcheca e Portugal. Período em que, na Europa, o coronavírus já circulava. Logo depois de retornar da viagem bastante sonhada, Larissa começou a manifestar sintomas compatíveis aos da gripe. Nove dias desde que ela realizou o exame, na manhã desta sexta-feira, 6, ela recebeu a confirmação de que não teve o novo vírus. A demora na confirmação chegou a preocupá-la. “Me preocupa, bastante até. Mas eu sei que estou bem”, dizia confiante, ainda antes de receber o resultado.
Se não fosse a ampla divulgação que a doença está tendo, febre, coriza e tosse sequer a teriam levado ao médico, tão simples eram, mas, por precaução, ela procurou atendimento. Foi aí que, seguindo o protocolo do Ministério da Saúde, Larissa entrou para a lista “suspeita de coronavírus”, foi colocada em isolamento domiciliar e passou a enfrentar julgamento popular. “Nós combinamos de não falar para ninguém que eu era a suspeita. Mas é complicado mentir para as pessoas”, conta Larissa. Desconsiderando a prática do Ministério da Saúde de não divulgar o nome nem nenhuma informação pessoal do paciente, ela veio a público manifestar-se em redes sociais.
É que mesmo sem uma informação oficial, bastou ser noticiado que a cidade tinha um caso suspeito para Larissa ser citada por familiares, amigos e desconhecidos como “a responsável por trazer o coronavírus para Montenegro”. Através do Facebook ela esclareceu que já se sentia bem e deixou claro que alguns comentários a incomodaram. “A questão é que eu tô muito bem gente. (…) Fiquei assustada quando soube que ia ficar em isolamento, mas o que me assustou mais nesta história toda, foi o que alguns montenegrinos escreveram sobre eu, sem me conhecer, ou até mesmo sabendo quem sou, escreveram e falaram por aí. Sim, as vezes o ser humano assusta bem mais do que um suposto vírus”, diz o esclarecimento.
No desabafo, ela fala sobre ter sido chamada, pejorativamente, de “riquinha”. À reportagem do Ibiá, ela explicou que viu comentários sobre isso ser uma doença trazida por gente rica, já que pobre não foi pra Europa e também referência a seu pai ter pago a viagem. “E não foi nada disso. Eu paguei tudo. Foi uma realização minha e pela qual eu abri mão de muita coisa”, conta ela, que é bancária.
Do isolamento direto para o trabalho
Ainda antes de saber que enfim podia sair de casa, Larissa relatava a dificuldade que é o isolamento domiciliar. “Pode parecer pouco, uma semana. Mas é muito ruim ter de ficar em casa, não poder sair e ver as pessoas. Não poder abraçar ninguém”, diz Larissa, que mora sozinha, o que facilitou o processo. Sua mãe é quem esteve trazendo as compras da casa e resolvendo algumas coisas como, por exemplo, receber quem veio trazer o gás. “Precisou trocar o gás e eu não podia. Então ela veio receber e pagar o entregador. E mesmo a minha mãe, se estivermos juntas, é com máscara”, relata ela. Ela manifestou, ainda, seu receio de como seria sair na rua. “Eu tenho medo das pessoas se afastarem”, comentou. Mas quando a notícia veio, por volta das 9h30min, através de uma mensagem extraoficial do Ministério da Saúde, tudo o que pensou foi em retomar a rotina. “Logo saí pra rua. Era o que eu queria. Eu vim trabalhar!”, disse a jovem, feliz em voltar à vida normal.
Montenegro ainda tem um caso considerado suspeito de coronavírus.