Hospital Montenegro se capacita para captar órgãos

O Hospital Montenegro 100% SUS apresenta números contraditórios quanto à doação de órgãos. Se por um lado cresce ano a ano o número de potenciais doadores, por outro, nenhuma doação se concretizou. Em 2015, a instituição teve três mortes encefálicas. Em dois desses casos, o coração parou tornando impossível manter os órgãos e, no terceiro, houve a negativa familiar para doação. Em 2016 foram quatro mortes encefálicas e em nenhum caso os familiares autorizaram. E, até o momento, em 2017, o HM registrou sete mortes encefálicas — todas também com negativas familiares.

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Tatiana Michelon, nefrologista
Crédito: Arquivo Ibiá

A médica nefrologista Tatiana Michelon, diretora clínica no HM, diz que não culpa a população pelas negativas e considera que estão em “um processo” de esclarecimentos e ganho de credibilidade. Esse “processo” citado por ela inclui uma formação específica da equipe no intuito de identificar um possível doador, que na grande maioria dos casos vem da UTI ou da emergência.

O contato com a família é delicado. “A humanização deve ocorrer em todos os momentos. E é muito fácil que, em meio ao dia a dia, tudo se torne mecânico. A preocupação não deve estar em buscar a família apenas na hora de informar a morte e falar da doação. É antes. É estar junto, contribuir e dar apoio até aquele momento”, diz Tatiana. Para a equipe, isso significa estar disponível 24h, porque o tempo entre a morte encefálica e a retirada dos órgãos precisa ser curto. A capacitação dos profissionais do HM ocorre junto à Santa Casa de Porto Alegre, que conta com o hospital Dom Vicente Scherer — referência nacional em transplantes.

Coma x morte encefálica

Um dos possíveis entraves para a liberação familiar é o medo ou, talvez, a esperança, de uma falha no diagnóstico de morte encefálica. Mas Tatiana esclarece que não existe essa hipótese. “Há uma confusão entre coma e morte encefálica. O coma é reversível. Há circulação de sangue no cérebro. Na morte encefálica, não. Como o comando de todas as funções do corpo são reguladas no cérebro, é questão de pouco tempo para que tudo pare”, explica a médica.

Tatiana Michelon explica, ainda, que, mundialmente, qualquer médico tem condições de fazer esse diagnóstico clinicamente. São critérios simples. Mas, no Brasil, existe um regramento que torna o protocolo ainda mais seguro e protege o médico. São dois profissionais que têm de efetuar o diagnóstico e, além disso, é feito um exame gráfico que demonstra o quadro.

Então, com um rígido protocolo, não há como ocorrer uma falha de diagnóstico de morte encefálica. “No momento que a família é questionada quanto à doação, o atestado de óbito já está assinado. Não há dúvida. Se optam pela negativa, os aparelhos que mantêm os órgãos funcionando são desligados”, diz a especialista. “E isso é muito diferente de eutanásia. Não há vida. Os aparelhos apenas fazem a manutenção dos órgãos para a possível doação”, completa Tatiana.

Processo tem de ser rápido
O tempo entre o falecimento, retirada dos órgãos e transplante precisa ser curto. Dependendo do órgão, se tem apenas quatro ou seis horas de prazo. O rim é o que oferece maior tempo, 24 horas até estar no novo corpo. Isso faz com que os critérios para escolha do receptor mudem. No caso do rim, se tem tempo para fazer uma testagem mais completa e identificar o receptor com melhores chances de não apresentar rejeição.

Para transplantes de pulmão ou coração não se tem tempo e o critério é o tamanho do órgão, que seja de doador e receptor com estrutura corporal similar, além, é claro, de terem o mesmo tipo sanguíneo.

Cultura Doadora Montenegro
A comunidade está convidada para participar do lançamento oficial do projeto “Cultura doadora – Montenegro”. O evento corre na Câmara de Vereadores, no dia 21 de dezembro, às 19h. O projeto é uma parceria do Jornal Ibiá, Fundação Ecarta e Hospital Montenegro.

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