Há 12 anos, Eliane Martins Pires recebeu o diagnóstico do câncer de mama no seio direito. Na época, o resultado chegou de forma surpreendente, pois o descobrimento foi junto com a perda de sua mãe. “Fui tomar banho e senti o carocinho. Fiquei um tempo com depressão, porque tudo se acumulou. No primeiro impacto você fica assustada. Fui ao médico, ele pediu uma mamografia e uma ecografia. Fiz os exames, que diagnosticaram o câncer”, recorda.
Assim como a maioria das mulheres que encontram o câncer na fase inicial, Eliane descobriu logo no primeiro estágio. Para tratar a doença, ela precisou fazer apenas sessões de quimioterapia e radioterapia. “Não precisei fazer cirurgia, fiz 23 sessões de radioterapia e 18 de quimioterapia, meu câncer era mais brando. Eu tenho muitos cistos, chamados pólipos, e o câncer estava localizado dentro de um destes pólipos. Como era no início e não era um câncer agressivo, não fiz cirurgia, apenas o tratamento com quimioterapia e radioterapia.”
A rapidez do diagnóstico a impressionou. Três meses separaram os primeiros exames até o inicio do tratamento. Mas isso não deixou de preocupá-la. “A palavra ‘câncer’ assusta muito. Muitas mulheres não fazem os exames periódicos por medo da palavra ‘câncer’. É como se você tivesse ganhado uma sentença de morte.”
Receber a notícia de uma doença é extremamente complicado, principalmente se tratando de câncer. Eliane sentiu-se abatida, mas não deixou que isso a afetasse. “Naquela época, até tu pegar o exame, o resultado da biópsia, saber qual o problema, o tratamento que você vai fazer, é como se abrisse um buraco no chão e você tentasse subir, e ao mesmo tempo em que você está quase alcançando a saída, você cai de volta. Por dentro, eu tinha vontade de entrar em um quarto, numa sala, e me esconder. Não conversar com ninguém, não falar com ninguém. Mas pensei que não podia fazer isso, seria o meu fim.”
O jeito extrovertido da diarista não a deixa esconder as difíceis situações que enfrentou durante a caminhada de cura. Após receber a notícia, o desafio de Eliane foi não se deixar abater pela notícia, e principalmente se fortalecer pelos dois filhos, que eram menores. “Muitas noites eu acordava chorando, porque na hora você só pensa nos teus filhos. Se eu morrer, como eles vão ficar? Era a dor maior, receber o diagnóstico e pensar nos filhos”, afirma, emocionada com a lembrança tão longínqua, mas tão importante na sua vida.
O apoio da família também foi fundamental para a reabilitação. Receber o carinho de seus filhos, família, amigos e conhecidos serviu como um bálsamo para o momento tão tenso. De acordo com Eliane, no início assimilar que ela tinha câncer foi difícil para todos, mas no momento seguinte, o apoio foi incondicional. “Receber aquele carinho, mesmo que a pessoa esteja longe, mandar mensagem de afeto, ligar te apoiando, isso te dá uma revigorada. Não foi fácil receber essa notícia. Quando eles ficaram sabendo, me prestaram muita solidariedade, queriam participar, queriam saber o que poderiam fazer pra ajudar.”
O grupo Amigas do Peito também faz parte da vida de Eliane. Apesar de ter participado pela primeira vez há mais de dez anos, é na última meia década que a diarista realmente vai a todas as reuniões. “Fui a alguns encontros e logo depois meu tratamento foi finalizado e voltei a trabalhar. Depois de um tempo, conversando com uma amiga que também passou pelo câncer, voltei a participar. Faz cinco anos que participo direto. Você se sente muito bem participando e escutando os relatos. Eu me senti abraçada, acolhida por todas. Isso foi e é muito importante.”
O câncer não discrimina ninguém por cor, idade, gênero ou conta bancária. O autoconhecimento do corpo salva vidas. “Se achou alguma coisa, vá ao médico, faça seus exames e tire a dúvida. Porque dúvida sóafunda o barco. A melhor coisa é procurar orientação e fazer o exame”, é o conselho que Eliane dá às outras mulheres. Perguntada sobre seus planos depois de tanto tempo de diagnóstico e cura, ela faz questão de afirmar sorrindo: viver a vida. “Meu plano é curtir o máximo que eu posso com a minha família. Isso é o principal, viver a vida”.
Homens também podem sofrer com câncer de mama
Apesar de ser extremamente raro (cerca de 1%), o câncer de mama também pode atingir homens. O preconceito e a falta de informação são um dos fatores que levam os homens a não terem intenção de procurar médicos. Na maioria dos casos, a detecção já é feita em estágio avançado, o que dificulta o tratamento.
De acordo com o mastologista Túlio Farret, a raridade do câncer de mama masculino limita alguns exames. “Não é recomendado o rastreamento com mamografia, por ser uma doença rara em homens. Mas, uma vez percebida qualquer alteração em uma mama masculina, é necessária avaliação com o mastologista.”
A orientação para prevenção do câncer de mama masculino é bem parecida com os casos femininos. Manter hábitos saudáveis como alimentação balanceada e prática de exercícios físicos, evitar bebidas alcoólicas e tabagismo e visitas regulares ao médico são ações que devem ser tomadas. O tratamento também se assemelha aos casos femininos. Quanto mais cedo for iniciado o tratamento, menor a necessidade de receber quimioterapia e radioterapia, e menor a extensão da cirurgia.